01 fevereiro, 2009

A Busca - 4ª parte

Rever teus amigos após tantos anos, mesmo Reginald, que prefere ser chamado de Reggie, era uma experiência quase temporal. Mesmo Reggie, porque, apesar de residirem ambos em Tetris, pouco se encontravam - tinham vidas muito diferentes. Após as Guerras Triônicas, onde Moisés auxiliou a guarda em diversas batalhas, eles não haviam se visto, nem para uma conversa informal.
Reggie, em termos de vida cotidiana, era a antítese de Moisés. Formalmente pouco regrado e dado a espalhafatos desnecessários, Moisés entendia que Reggie havia chegado em sua atual posição apenas por um grande motivo, sua enorme força de vontade. Sua história começara em uma vila sem nome, a leste da floresta conhecida por Blackwood. Por alguma desventura do destino, este se perdera e fora levado para uma escola de infantaria, onde, mais tarde, deveria tornar-se componente da Guarda de Tetris. Reggie não se adequava aos preceitos militares. Sua fanfarronice exacerbada se desenvolvera bastante naquele ambiente, e mudara um menino tímido para um guerreiro competente, porém indisciplinado. Dias na prisão e como sentinela o deixaram apenas mais furioso e inconseqüente e, na primeira oportunidade, fugiu do aquartelamento. Tetris era seu objetivo e dinheiro tua futura recompensa. Chegando a cidade, depois de escapar de pretensos algozes militares, vagou por um tempo, até chegar ao estádio dos Manticores, time de rúgbi da cidade. Entrou, gostou do que viu, solicitou um teste e foi aprovado. Mesmo no quartel, ficara conhecido pela perda de calma e encontrões desnecessários. Isso se adequava perfeitamente a aquele jogo selvagem e violento e assim Reggie se tornara o melhor jogador da equipe em pouco tempo. Lá conheceu Yirn Blackstone e ambos se tornaram grandes amigos. Aliás, Moisés nunca entendeu direito tal relação. Eram muito diferentes. Yirn era gentil e ouvinte, enquanto Reggie era verbalmente espalhafatoso e pouco cordial. Mas, como opostos, as personalidades deviam se completar de alguma forma. A amizade era tamanha que, após as Guerras Triônicas, Reggie, após reorganizar a milícia tetriense, partiu numa busca solitária por seu amigo, sumido a algum tempo, sem sucesso aparente. Retornando logo após, como chefe da guarda que abandonara anos antes, grande ironia.
O tempo fora generoso com Reggie. Provavelmente pelo motivo previamente mencionado, este se mantinha em forma. Há algum tempo deixara de ser capitão da guarda, para se dedicar ao treinamento da equipe de rúgbi, agora conhecida por Kobolds From Hell, nome pouco promissor, pelo qual Reggie chamava nosso antigo grupo. Mesmo no auge de seus 54 anos de idade, treinava com a equipe, ainda com belas jogadas e violência exagerada. Seus cabelos ainda curtos não mudaram, pois desde jovem estes possuíam uma estranha coloração acinzentada. A barba era o diferencial, afinal, anteriormente sempre se mantivera barbeado. Talvez uma cicatriz conseguida na guerra, quando enfrentou Balthus Bone num confronto homem a homem, tenha feito com que mudasse seu visual. Usava uma armadura de placas semi completa, pois dizia que atrapalhava seus movimentos. Uma loriga de couro completava sua vestimenta de batalha. Nada o identificava como Capitão de Honra da Guarda de Tetris e, como símbolo, usava apenas uma faixa presa ao braço com as iniciais KFH. Uma capa escondia o que para muitos poderia ser algo repulsivo ou, no mínimo, estranho. Uma pequena corcunda negra, que não sabíamos exatamente do que se tratava, mas que Reggie dizia ser uma criatura viva que se comunicava com ele e que possuía um enorme par de asas quirópteras, com quase 4 metros de envergadura que se atrofiavam e quase se escamoteavam em seu pequeno corpo. Ele o chamava de pterodraco e, aparentemente, ambos se adequaram ao convívio. Isso o tornava o único humano, pelo menos único conhecido de Moisés, que podia voar sem ajuda de magia. Quando as asas se abriam, Reggie parecia um híbrido, homem-dragão. Manejava armas brancas como ninguém, sendo superado, talvez, apenas por Baltek Skylander. Seu velho machado de batalha e escudo médio completavam a indumentária.
Apesar de pequenas desavenças, Reggie era o guerreiro que Moisés gostaria que estivesse ao seu lado numa peleja. Nunca fugia de uma boa briga e quando era necessário, defendia amigos com unhas e dentes, mas sempre sem perder a chance de uma piada, geralmente de mal gosto.

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