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19 agosto, 2008

Slyshire 4 - Um ano no futuro, parte 1

Sim, tive que dividir em partes, estava realmente ficando muito grande. Ainda não tenho previsões da quantidade total de partes dessa série no futuro. Dêem um feedback, please, pra eu saber se vale a pena seguir essa linha :)

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Ela adentrou o hall vazio e obscuro com passos rápidos, olhando fixamente para a porta ao fim do corredor. A expressão era fria, calculista, mas com uma pequena faísca de raiva - ou seria ódio? Sua determinação era tanta que o segurança ao lado deixou-a passar sem questionamentos: era mais do que óbvio, aquela só podia ser ela.

Abriu a porta sem bater e continuou o ritmo de seus passos até estar frente à mesa onde o grande líder aguardava. O antes imponente e invencível agora parecia acabado, como se a idade o atingisse inteira de uma vez só. As olheiras e a expressão de rendição o faziam parecer apenas um idoso sentado em uma cadeira de luxo.

- Jill, é bom ver você novamente. - ele praticamente sussurrava, com uma voz rouca.
Ela deu um breve sorriso, discretamente.
- Bom ver o senhor também, especialmente ainda vivo.
- Conte-me as novidades.

O confinamento, na verdade, não fazia bem para ninguém por ali; mas as preocupações que ele tinha o faziam ser o mais afetado. A antiga Slyshire já não existia, com um saldo de dois prefeitos mortos além de todos os civis, e já não havia mais motivo para cargos e importâncias. Era o escolhido apenas para liderar o caos que não podia ser liderado, e tentar manter seguros os que ainda estavam vivos.

Jill era uma das poucas que se oferecera para ser uma defensora. Os defensores, na verdade, nada tinham deste nome - já que toda a população restante já estava isolada, e o que realmente faziam era atacar. Jill gostava da idéia de chamar os defensores de guerreiros dos mortos. Anthony, o líder, preferia chamá-los de loucos. Loucos necessários, porém - o que conseguissem matar daquelas criaturas era sempre bem-vindo. Jill era a única mulher dos três defensores que a área norte tinha; os tiros de Rex, o mais velho, eram audíveis de tempos em tempos, e Max, o mais novo, estava agora na área oeste. Não era nada simples, mas os dois irmãos pareciam se divertir com a matança. Rex costumava dizer que não se imaginava mais sem a adrenalina da nova profissão, depois de anos parado apenas sendo um funcionário comum na frente de computadores.

Os tiros de Rex soaram mais uma vez, agora próximos ao prédio: sinal de que ele provavelmente estava esperando por Jill. Ela se inclinou sobre a mesa, tentando ficar mais próxima de Anthony e mais distante dos ouvidos do segurança novato e extremamente nervoso que se encontrava ao lado da porta.

- Acredito que, pela proximidade do ruído dos meus tiros e de Rex, o senhor já tenha notado de que algumas criaturas andam se aproximando daqui novamente. Max percebeu há dois dias, nos limiares da rodovia, que grande parte deles está chegando do oeste. Estamos temendo que as defesas da área oeste estejam abaladas.

- Certamente, há algo de errado - respondeu Anthony - há dois dias não recebo comunicação por parte de Felson.

Ao dizer isso, apontou para o aparelho comunicador que os quatro líderes usavam para comunicar a situação de suas áreas aos outros.

- Max viajou para lá ontem para tentar contatar aquele defensor da oeste que costuma ficar próximo aos antigos jardins. Senhor, devemos temer o pior. E é com base nas piores suposições que venho até você agora. Se a ala Oeste precisar realmente de ajuda, a lógica nos diz que nós três seremos necessários por lá. Isso deixaria nossa área desprotegida.

A expressão de Jill era fria, mas a preocupação era aparente.

- Sei do que precisas, minha querida. Mas observe o meu redor - os civis que protejo estão tomados pelo terror. E até mesmo meus seguranças tremulam ao pensar em enfrentar um daqueles monstros. Ninguém é voluntário, e não posso forçar pessoas na condição que estou. Que todos estamos. A área norte está sem defensores além de vocês e não posso fazer nada agora para mudar isso.

Jill olhou Anthony nos olhos longamente. Levou alguns segundos para decidir que falaria o que estava pensando.

- Senhor, Brenan me parou no corredor para cá mais uma vez. Ele realmente deseja estar conosco. Nossa necessidade é grande.

A expressão de Anthony se endureceu.

- Ele é jovem demais! Inexperiente demais!

- Entendo, senhor. Mas não temos posição para escolhas. Ele pode ser treinado comigo, pessoalmente, e cuido dele até que seu treinamento esteja completo. Em minha suposição, ele nos acompanharia enquanto Rex defende o que temos aqui. Ainda estamos numa certa calmaria que nos permite pouca defesa. Caso o problema no oeste seja tão grave quanto imagino, em breve teremos sérios problemas por aqui também.

Anthony se manteve silencioso. Não tinha argumentos contra, já que Brenan passara dos dezessete anos e Jill tinha toda a capacidade necessária para treiná-lo. Com um suspiro, se rendeu, abaixando os ombros.

- Ok. Ele é todo seu. Vá para o oeste e deixe Rex por aqui como planeja. Mas antes, aguarde o retorno de Max. Precisamos ter certeza do que estamos arriscando.

Jill agradeceu com um sorriso leve e se levantou, já caminhando apressadamente para a porta. Quando já estava quase no corredor, Anthony pediu, com a voz fraca:

- Por favor, Jill. Cuide bem dele. Não sei se meu coração suporta perder outro filho.

12 julho, 2008

Slyshire Domination (?) - parte 3

Taí o espírito: se é pra postar, é tudo de uma vez! Dois posts em um dia, estamos evoluindo... hehehe
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Créditos para o Yirn por ter criado o nome da cidade e dado a inspiração para o possível título dos contos dessa série. Valeu figura! :)
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Pra quem não se achar, parte 1 aqui e parte 2 aqui.
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Vinte e cinco de Agosto definitivamente foi um dia bastante atribulado em Slyshire.

Ela andava pelas ruas calmamente, observando as vitrines, enquanto o dia anoitecia. Observadora como era, logo percebeu um homem, no topo de um dos altos prédios da avenida, em pé, olhando para o pôr-do-sol. A luz e a distância permitiram apenas que ela visse a silhueta, estática, contemplando o horizonte. Realmente, pensou, deve ser uma vista linda. Perfeita para alguém que precisa relaxar.

Uma mulher falando próxima retirou seu olhar do homem e a fez voltar a prestar atenção nas vitrines à sua volta. Parou logo à frente do prédio onde vira o homem no topo, admirando um sapato particularmente extravagante que era exaltado com o preço em promoção. Se distraiu por alguns segundos pensando sobre futilidade, e não percebeu o estranho silêncio de alguns momentos que tomou a rua.

A partir daí, várias coisas aconteceram em um segundo. A mulher que antes papeava em frente à loja gritou. Uma freada, uma buzina, dois ou três "ohh" dos transeuntes próximos. Por fim, o som de algo pesado caindo no chão. Tudo foi tão rápido que, ao se virar, ela se deparou com a cena pronta, como se naquele momento tudo estivesse congelado em estarrecimento.

O homem vestia um jaleco branco e o vidro de seus óculos tinha se espalhado - chegara ao chão antes de seu dono. O pescoço quebrado e uma perna virada com o osso do joelho exposto eram incompatíveis com a expressão de tranquilidade do rosto morto. Os motoristas dos dois carros parados ao lado da cena agora saíam do carro, correndo, assim como todas as outras pessoas que estavam na rua - a obscura fascinação por sangue e morte do ser humano. Ela era diferente, mas mesmo assim avançou alguns passos para o corpo antes que estivesse completamente rodeado pelos curiosos. Que erro de julgamento, pensou - um homem relaxando e vendo a vista? Como se isso ainda fosse possível nos dias de hoje. Devia ter previsto.

Com um olhar rápido, constatou que ele não tinha sido clássico em morrer com um bilhete de despedida na mão ou com um gravador nos bolsos. Parecia na verdade ter saído de um dia de trabalho bastante cansativo, com o jaleco ainda meio sujo, olheiras enormes e os cabelos mal-cuidados. Decisão repentina, talvez?

Saiu da cena e retomou seu caminho para casa antes que a polícia chegasse para aumentar a bagunça. Entrou em seu apartamento, tomou um banho e ligou a TV. Em meio a uma xícara de chá amargo, o noticiário começou.

Foi ali que ela percebeu que aquele era o primeiro dos dias problemáticos que viriam.

"Slyshire teve um dia sangrento hoje. Nesta madrugada, foi encontrado o corpo de um homem ainda não identificado em um beco do bairro norte. Completamente desfigurado sobre uma poça de sangue, ainda não há pistas do acontecido. O corpo da modelo internacional Ananda Amstein foi encontrada em seu apartamento às três da tarde, apresentando deformações semelhantes às do homem não-identificado. Recebemos há poucos minutos a informação sobre o suicídio do Dr. Kelvin Hammer, ocorrido há pouco mais de meia hora na avenida central. O bioquímico e premiado especialista em genética se jogou da cobertura do prédio onde o centro de estudos do estado funciona. Ainda não foram divulgados possíveis motivos para o acontecido."

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27 junho, 2008

ainda sem nome, parte 2

O banho já durava mais de quarenta minutos e ela permanecia abaixo do chuveiro, acaraciciando os cabelos molhados, com uma expressão fria no rosto. Grande filho da puta, pensava. Grande galinha mongolóide. Seus olhos se acendiam como se fossem chamas de raiva, enquanto pensava no marido que novamente desaparecera.

Se não fosse tão freqüente, soaria até mesmo teatral. Mas não era mais novidade, não para ela - os sumiços de uma noite, dois dias, até quatro, eram comuns.

Bastardo. Escória.
Um leve sorriso brincou em seus lábios quando ela pensou que também não era um perfeito anjo. O que mais a levaria a aturar o marido se não fosse... puramente dinheiro? Não podia reclamar do apartamento de luxo que estava e nem da casa de campo, a de praia e o motorista particular. Mas era revoltante - ela não era nada menos do que modelo internacional, reconhecida nos quatro cantos do mundo por sua beleza intrigante, e era ignorada dessa forma por um homem mais do que ativo em termos sexuais.

Grande filho da puta.

Quando ouviu o barulho da porta, não se surpreendeu. Sequer falou alguma coisa. Aguardou, ouvindo os barulhos de louças quebrando - estar bêbado também não era novidade para ela. Continuava abaixo do chuveiro, observando com interesse as pontas de seu cabelo, e analisando os dedos que já começavam a ficar enrugados. Só sentiu que algo estava errado quando os ruídos de destruição da decoração da casa atravessaram o corredor e chegaram à porta do banheiro. Ele nunca vinha à suite dela. Não logo depois de chegar.

Por detrás do vidro fosco do boxe, viu a silhueta de seu marido entrar devagar no banheiro, ainda cambaleante. Parecia hesitar em seus passos.

- Três dias. Espero que pelo menos dessa vez você tenha se dado ao trabalho de não sujar todo o apartamento! - exclamou com sarcasmo.
A resposta foi um grunhido rouco e ofegante, muito diferente da usual voz grave e firme. Deve ter engolido a garrafa junto, ela pensou, sentindo nojo. A silhueta agora se aproximava da porta do box, muito lentamente. Desligou o chuveiro, puxando a toalha para se enrolar, e ouviu que ele tinha a respiração ofegante e chiada, quase como a de alguém que não consegue respirar. O ritmo das inspirações soavam como se ele estivesse farejando algo.

- O que diabos você quer aqui? Pode me dar licença? Não quero você aqui agora.

Sem sinal de ter entendido, ele continuou avançando. Colocou a mão sobre o trinco que abriria a porta e hesitou por alguns momentos, ainda ofegante. Ela se aproximou mais do vidro, tentando ver a expressão em seu rosto, mas não foi preciso. Com violência, ele abriu a porta de uma vez, e avançou em um pulo. A última visão que ela teve, aos gritos, foi a de um rosto completamente desfigurado e coberto de sangue seco, e os olhos branco-leitosos do que um dia fora seu marido.

Grande filho da puta.

13 junho, 2008

Estréia

Como abertura da minha primeira participação, um agradecimento especial ao Mr. Blackstone pela grande honra. Longa vida aos ogros simpáticos! :D HAHAHHAHAHA


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O beco sem saída. Era o fim. De todas as possibilidades, todas as probabilidades, ele tentara fugir pelo beco sem saída. Encarou a parede de tijolos de mais de dez metros, imunda, aspirou o forte odor de urina e álcool que subia do chão, e se virou para seu perseguidor.

A figura monstruosa e desfigurada de um morto-vivo ofegante era recortada pelas luzes azuladas dos postes do subúrbio da cidade. Deve ter sido um maratonista em vida, pensou com sarcasmo. O já-não-mais-homem, aparentemente negro, alto e com manchas de sangue espalhadas pelo tronco, agora decidira parar à sua frente e se deliciar com o engano de sua presa.

Não restava escolha. Era atacar e morrer ou esperar e morrer. Agarrou uma tampa de lixo e, aproveitando o momento de prazer do inimigo, atacou sem pensar em nada além do quão estranha era sequência de coincidências que o levara a encarar um morto-vivo nos olhos.

Noticiário das sete: Homem encontrado morto, desfigurado, ao lado de tampa de lixo ensanguentada. O corpo ainda não foi identificado.