15 dezembro, 2010

TARTARUGAS NINJAS LIVE ACTION

Imagine aquele live action IRADO, feito com esmero e com horas e horas de edição e aftereffects.

Imaginou? Jogue tudo fora!



FUKKEN SWEET!

28 novembro, 2010

Retornando?


Faculdade, trabalho, trabalho, faculdade... Parece que eu tô de castigo...

05 maio, 2010

Chucrutes voadores

A tendência atual é a igualdade. Todos são iguais perante a justiça (sério?), perante Deus (agora todo mundo tem alma) e perante a sociedade (haaaaaa, pegadinha do mallandro!!!). Essa é “a onda” do momento. Deixamos de analisar friamente (iluminismo de #%$@) e passamos a contar com o quesito bondade. Mas aí alguém deve estar se perguntando: “Por que ele tá falando isso?”. A resposta não é simples, mas vamos lá...
Pensem comigo (todos juntos, sei que é difícil, mas vamos tentar), lembrem-se da Igreja Católica, ali, perto da Reforma, do Cisma e da Santa Inquisição. Pois é, sob sua mão de ferro os pobres se mantinham na linha pela força e os ricos pagavam um lugar no céu. Resumido, sim. Simplista, talvez. Incorreto, nunca. É só procurar nos livros de história. Está tudo lá.
Blá, blá, blá, filosofia, blá, blá, blá, pensadores, blá, blá, blá, Whiskey Sache e o cerumano progrediu. Veio a Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a Revolução dos Bichos, e tudo aquilo que também está nos livros de história (por favor, leiam um pouco) e mais do mesmo acontece. A velha história do pecado e redenção se perpetua. É Bíblia pra cá, oração pra lá, dízimo acolá (em outras religiões tem outro nome, vá procurar) e tudo o que o camarada fez (e tomara que tenha feito) é deixado de lado.
Que tal se todo mundo esquecesse essa historiada toda e resolvesse copiar mais o que Jesus fazia? Hmmmm, difícil não? Mais fácil ir à igreja, ganhar seu dinheiro, dar um pouco pro pastor alemão e ir pro céu... Pois é. Lembra do W. Bush? Esse é religioso, cristão de carteirinha, guerras em nome do Senhor.... É triste ver a involução do cerumano.
É aí que retornamos ao assunto inicial. Somos todos iguais, não é? Então por que eu tenho carro, casa, tomo minha cerva (importada e da melhor qualidade, muitas vezes), tenho uma máquina de lavar espacial e tem gente que cata lixo no depósito municipal? Que igualdade é essa? Eu posso pagar a caixinha da igreja (não que eu pague, é um supositório)... E quem não pode? Vai pro inferno??? Hahahahaha.... Iguais...

15 março, 2010

Reticências 9

Por que eu quero aquele filho da puta morto? Por que não conseguiram enfiar uma bala no peito dele, conforme eu mandei? Por que ainda fico pensando nessa história, como se tivesse acontecido na noite passada?

Lembro claramente daqueles poucos notáveis, que emprestaram seus conhecimentos para concretizar a minha ousadia. Prontos para tirá-la dos braços de Morfeu e entregá-la às mãos da Ciência.

Meu delírio era que cada pessoa tivesse dispositivos dentro de si que pudessem gerar o desejo de ser mais inteligente, saudável e feliz. Uma “excentricidade” que fatalmente resultaria em gastos exorbitantes... Foda-se! Eu paguei pra ver!

Para isso, reuni as maiores capacidades em neurologia e nanotecnologia. Para financiar os jalecos, eu era o terno que queria vender a imagem da “pessoa perfeita”, a base de minúsculos estimuladores eletrônicos infiltrados nas atividades cerebrais.

Chamamos o projeto de “Joe”. Qual a razão para este nome? Talvez pela sacanagem de perguntar “como vai o Joe?” em frente aos outros, sem que desconfiassem da revolução idealizada por nós.

Após anos de frustrações, os testes com símios e roedores começaram a nos entusiasmar, graças a uma criação denominada “chip-terminal”. Até hoje, não descobri como isso funciona, e agora até tenho raiva de quem sabe!

O trabalho era mantido em sigilo, ainda mais devido ao passo seguinte: pegar um grupo de 25 pessoas, que não fariam falta alguma ao mundo. Eram os nossos “Joes”, tentativas para se alcançar a evolução mais rapidamente. Mostrar que Deus é quem ousa sê-lo.

Sem qualquer sinal de laço afetivo e sem qualquer chance de prosperar na vida, as cobaias serviriam adequadamente aos nossos propósitos. Não tinham nada a perder com o que lhe oferecemos: tornar-se um molde para bilhões.

Surpreendemo-nos quando, em questão de meses, elas já apresentavam consideráveis melhorias. Projetávamos com euforia civilizações de porte hercúleo, destreza felina e mente einsteiniana.

Até que, em determinado momento, os pesquisadores perceberam algo que nem mesmo eles, ou quaisquer outros gênios, podiam alterar: a necessidade da natureza humana de também ter os seus momentos de estupidez e desleixo.

Travava-se uma batalha interna. Os olhos brilhavam por aprendizado, mas logo se perdiam por ausência de concentração. As pernas não respondiam aos impulsos iniciais de se exercitar. Abria-se um sorriso para depois aprofundar-se em depressão.

O projeto foi cancelado, e todas as cobaias se livraram dos chips, sem seqüelas imediatas aparentes. Apenas uma foi mantida, um homem que continuava desenvolvendo suas aptidões, sem transparecer reações negativas.

A exceção mostrou-se confiável, então percebi que suas habilidades serviriam muito bem à Agência, o que se confirmou a princípio. Pois me deixei levar pelo orgulho dele ter sido minha “cria”, e dei brecha para a merda que ele estava aprontando...

11 fevereiro, 2010

Reticências 8

Caminhar pela rua ajudava a esquecer os problemas, ou pelo menos assim eu pensava. Sem emprego, sem mulher e agora, oficialmente, sem casa. A senhoria não ficou muito feliz de saber que eu ficaria devendo mais um mês de aluguel. E, sabe o que é pior? Compreender isso tudo e saber que todos estiveram certos quando agiram (teoricamente) contra mim. Eu já tinha vendido tudo o que poderia ser vendido... Só me restavam algumas roupas, uma mala, alguns trocados, um colchão (que ficou no apartamento... ele não pagava nem um quinto do que eu devo para a Sra. Miller) e o velho Colt de meu pai.
Pelo menos essa parte da minha vida eu conseguia conservar. Meu velho pai... Sinto saudades. Essa arma era de meu avô, que tinha recebido do pai dele. Foi passada de geração em geração, como uma espécie de amuleto. Meu bisavô, pelo que me lembro do pai falar, era um delegado e essa arma era a “Mantenedora da paz e da ordem”, como estava gravado em sua coronha.
Bem, a arma tinha uma história... E garanto que mais feliz que a minha...
O título da minha vida poderia ser “O Panaca”... Pena que já é aquele filme com aquele ator que não consigo lembrar, mas que tem cabelos grisalhos e não é o Leslie Nielsen. Enfim, eu sou um crédulo. Nem sei como consegui chegar tão longe.Vindo do interior e com boas notas eu consegui uma bolsa de estudos na universidade, não só por causa das notas, mas porque era um bom jogador de Rúgbi. O treinador Coach disse que eu tinha futuro (nome engraçado o dele) e que poderia me tornar um profissional. Sendo assim, e ainda gostando de matemática, fui para o curso de Economia. Na universidade a vida fluiu. Eu nunca fui muito popular, os caras de outros esportes eram mais paparicados, afinal eles não estava com a cara inchada e roxa depois dos jogos. E eu sempre fui tímido, preferindo ficar na minha...
Foi lá que eu conheci a Rose, que veio a se tornar minha namorada. Ela tinha algo que faltava em mim... Depois vim a descobrir que eram os culhões. Ela fazia o que bem queria comigo. Eu nunca entendi bem porque eu deixava.... Eu simplesmente o fazia. No último semestre, pouco antes da formatura, eu me machuquei, e feio.
Tudo já estava esquematizado. Eu me tornaria profissional na equipe daqui mesmo e poderia fazer carreira. Mas, com um dos ligamentos do joelho direito destruídos na final do campeonato universitário, minha carreira chegava ao fim antes mesmo de começar. Só me restava a Economia, e assim foi. Fui trabalhar num banco, no setor de empréstimos. Nesse ponto minha credulidade começou a destruir minha vida...
O que eu fiz de errado? Ter pena das pessoas... Conceder empréstimos para quem não podia pagar e, seis meses depois, voilá, demissão por justa causa.... Rose? Essa deu no pé quando eu saí da faculdade... Nós morávamos juntos (eu a sustentava) e na primeira oportunidade ela partiu, dizendo que ia pra Paris, estudar. Hahaha... Ela tinha muitas dores de cabeça...
Pensar na minha vida na me fazia nada bem, mas era o que me restava. Era minha form...
Um tropeço e um encontrão num homem de meia idade, bombado:
- Desculpe senhor, eu estava distraído...
- Some da minha frente, seu almofadinha!
E um empurrão... A vida ensinou David Strauss a não revidar quando não era necessário. Acelerou um pouco o passo, sentindo um leve desconforto no joelho doente. Olhou para o céu, tentando encontrar a sol, de modo que esse o cegasse por alguns instantes. Ao invés disso, abaixo do ambiente nublado, entre os edifícios, viu o que pareciam ser duas balas cruzando por sobre a rua.
“Que estranho... Mas não é comigo.” – pensou. O desconforto tornou-se um dor, não das piores, mas uma daquelas que só passavam com alguns momentos de descanso. Viu um beco, desses que ficam entre os prédios e foi para lá, sentando em um caixote de madeira, massageando levemente o joelho. Segundos depois ouviu um barulho metálico sobre si e ao olhar para cima pôde visualizar um sujeito que caía pela lateral do edifício à direita. Sua última reação foi fechar os olhos...

05 fevereiro, 2010

RETICÊNCIAS 7

Um sorriso irresistível nasce do canto da minha boca quando a bala resvalada penetra no terrível papel de parede verde-musgo. É claro que eu poderia ter sido mais competente, mas eu gosto desse jogo de gato e rato que se apresenta à minha frente. E além do mais, esse rato é especial.

Súbito ao tiro, silêncio. Deve estar forçando aquela porra de supercérebro em algum plano de fuga genial. Os segundos são intermináveis, mas aproveito cada momento da sua aflição para recarregar as minhas energias depois da monótona noite de verão. Já era hora de movimentar as coisas.

O imagino assustado e permito-me abrir um pouco mais meus lábios como uma grande faca curvada. Gosto de brincar com meus alvos, sentir o aroma do medo e decifra-lo nos gestos descuidados e na mente paranóica de suas vítimas. Por mais extraordinário que um indivíduo possa ser, quando o terror absoluto lhe sufoca a razão, a guarda baixa. E é nessa hora, tal qual um toureiro, é que eu desfiro meu golpe fatal leve o tempo que levar.

Há certamente uns que reprovam meus métodos, os rotulando como caóticos, desleixados ou demorados em demasia. Outros ainda, suspeitam da extrema negligência da Agência com os mesmos.

Pobres idiotas. Onde esses merdas vêem caos, eu vejo ordem. A minha ordem. Sabe aquele livro de regrinhas que todo recruta é obrigado a decorar antes de largar a fralda? Pois é, eu não só o rasguei em pedaços como embaralhei todos fora de posição depois. A chefia sabe do meu resultado e me trata como um mal necessário, habilmente relevando meu modus operandi à vista de meus “companheiros”. Eu, pessoalmente, cago e ando pra essa porra toda. Fazer parte só é conveniente para satisfazer as minhas próprias necessidades. Nem mais, nem menos.

Ainda com o olho na mira, alcanço a xícara amarela em cima da mesa e bebo um pouco do café. O aroma forte invade o meu cérebro e vislumbro movimento na escada de incêndio. Desaponto-me por um instante e delicio-me no outro. Em tempos passados, esse débil plano de fuga seria indigno da sua condição extraordinária. Hoje, é a prova inconteste de que meu plano caminhava perfeitamente.

Reposiciono o rifle nacional e prendo a respiração enquanto planejo uma dose a mais de desespero em sua mente fragilizada. De repente, como por improviso, descuidados estampidos partem na direção do alvo, alvejando o concreto segundos antes e depois do seu salto para um terreno baldio anexo. Ligeiro, solto a arma e pulo da cadeira de balanço na direção das cortinas forçando meus olhos contra o clarão matinal - dois andares acima, vejo um cano esfumaçado que num instante desaparece.

Como um raio, volto para dentro do cômodo central e derrubo o café ainda quente na mesa. Abro a gaveta do criado-mudo e vislumbro a Glock prateada colocando-a perigosamente na cintura. O jogo era meu para ser jogado, porra!

Ao atravessar a porta do apartamento em direção às escadas, meus dentes já rangem, pronunciando ainda mais o meu já avantajado maxilar como sempre acontece quando fico nervoso. E nervoso, meu amigo, não era nada bom.

21 janeiro, 2010

Reticências 6

Como eu gostaria de correr com as minhas pernas de ontem!

Pisei ofegante o topo do prédio. Nove andares, até que não é tão alto. Ou será que deveria considerar minha trôpega condição?

Os riscos de chumbo no céu azul. Os riscos que corro se não saltar. Correr, saltar, eu não sou mais um atleta olímpico.

Meus dias de herói são páginas de jornal, meus nomes são passado. Tanto a alcunha de batalha, como o que constou na certidão, hoje trancada em um arquivo de pó.

O salto de um herói. A queda de um homem. A história de uma vida.

Sorte que mantenho o equilíbrio no momento de aterrissar. Azar que os disparos continuam, vindos agora de outro ponto.

Meu plano de fuga havia sido traçado nos míseros segundos que vi a área de cima. Terrenos de mato descuidado me escondem até alcançar um local que julgo seguro.

O sol inimigo pode revelar minha posição, e o vento confronta meu corpo, quase que completamente alterado por experiências. Algumas bem, outras mal sucedidas.

Porra, só agora me dei conta: esqueci as malas! Deixei sobre a cama! Tudo o que eu tinha! Resta apenas a roupa do corpo!

Um veloz processador na cabeça, que permite uma imperdoável falha emocional.

Como eu gostaria de poder pensar com o meu cérebro de ontem!

18 janeiro, 2010

Zero - Responsabilidade

“Foi inevitável... Algum louco fatalmente erraria... E esse errou feio...”

Noticiário das Seis:

- A perseguição pelas ruas do centro da cidade foi intensa e o atirador conseguiu fugir. Estamos aqui com o Comandante Alighieri, responsável pelo esquema de segurança do Fórum e adjacências. Comandante, como o senhor explica esse tiroteio quase dentro do júri, sendo que havia um esquema de segurança enorme montado?
- Como eu sempre digo, repórter tem que ficar de fora... Mas como todo mundo fica atrás de publicidade gratuita, é nisso que dá. Aquele infeliz mascarado estava misturado com vocês...” – e sai andando.
- Essa foi a declaração pouco amigável do Comandante Alighieri, responsável pelo fiasco que foi a segurança do julgamento de Sandor Claw, absolvido da acusação de tráfico de drogas, depois de 3 meses no banco dos réus e 2 assassinatos entre os jurados. A contagem de corpos de hoje está em 5, sendo 2 jornalistas, 1 cidadão comum e 2 policiais, além de Sandor e seu advogado feridos. Aqui é Clare Hire para o Noticiário das Seis.

CORTA

“Tenho que correr! Correr!... O que foi que eu fiz!!! TINHA QUE SER FEITO! Eu sou Zero... Um dos Zeros... Vou continuar a matar criminosos... Eles mataram minha família no parque...”
Os pensamentos se atropelavam, misturados com adrenalina e serotonina em movimento. Frank não agüentou ver o algoz de sua mulher e seus filhos caminhar para a liberdade. Tudo tinha sido planejado e deu certo. Pelo menos em parte... Não sabia atirar. Era um bombeiro, da 5ª guarnição norte e bombeiros salvam vidas e não as tiram.
“AAAAAAAAHHHHH!!!”

CORTA

“Maldito sujeito. Eu avisei.”
Perseguir o falso Zero e se desvencilhar dos policiais era simples. Quando esses perderam a pista, envolvidos pelos becos mal definidos do centro, ficou ainda mais fácil.
“Sistema patético...”
O bote estava próximo. O Falso parou para respirar num beco sem saída. Erro comum e fatal. Zero saltou do segundo andar da escada de incêndio, com os dois pés sobre o ombro direito, rachando a escápula e deslocando o braço vinte centímetros. O Falso desabou, levando cerca de 3 segundos para gritar devido à dor lancinante.
Zero caíra de pé:
- Sabe o que fez??
- Ze-zero...? – ainda tonto
- SABE O QUE FEZ???
- Sim, vinguei minha família...
- ... – Zero retira do bolso um smatphone, liga-o na recepção de TV e aponta para o Falso.
- ... famílias dos dois policias já foram informadas do incidente e o IML ainda aguarda a identificação do cidadão desafortunado que passava por ali no momento do tiroteio. Faremos luto pelos companheiros de profissão Jim Cage e Jose Hernandez, respectivamente, repórter e cameraman do canal 12. Condo...
- Deus... Eu fiz isso?
- Sim... Tem noção de sua irresponsabilidade?
- E-eu não queri...
- Não queria... NÃO QUERIA!!! Acha que eu quero? Que não tenho que tomar o máximo de cuidado possível para que não haja nenhuma baixa? Nenhum efeito colateral, como eles chamam... Você é o que? Alguma espécie de louco?!?!
- Olha quem fala. Um sujeito que anda por aí, fazendo sua própria lei... Por que não posso fazer o mesmo?
- RESPONSABILIDADE!!! É o começo e o fim de toda vingança... E tomar minha face.
O rosto de Frank já estava tomado por lágrimas, tanto da dor física, quanto pelo remorso da morte dos inocentes.
- Eu só queria vingar minha família... Não é justo... Sandor está solto...
- E vivo....
- Vivo?
- Sim... Vivo.
- Meu Deus...
- Rogue por ele...

CORTA

Noticiário das 9.

- A emergência foi chamada e teve uma surpresa ao encontrar o bombeiro civil Frank House com um ombro, pernas e mãos quebradas no lugar conhecido como Beco da Morte Incerta. Semi-inconsciente, quando encontrado balbuciava a palavra “zero” e tinha um papel pregado em seu peito que dizia: Eu avisei. Sejam responsáveis pelos seus atos. Este não é um Zero.

15 janeiro, 2010

09 janeiro, 2010

RETICÊNCIAS 5

Não poderia ser mais óbvio. O telefone da lavanderia, onde uma vez por semana deixava sua roupa. A sensação de paranóia tomava conta dele. Tinha até esquecido como era tal sentimento. O ferimento encharcava a toalha, provavelmente mais grave do que parecia. Desenrolou o dedo e pôde verificar o sangue vertendo. Pegou uma toalha de prato, sobre a pia e enquanto estancava o sangramento sua espinha gelou. O aparelho celular tocava novamente. Num misto de medo e ódio, correu até a sala e atendeu, ouvindo a mesma voz anterior:
- Se fosse você cuidaria deste ferimento. Você não pode morrer. Sua vida pertence a nós.
Num desespero que poderia ser a definição semântica do próprio termo, virou-se e para a janela mais próxima. Serrando os olhos, visualizou com muita dificuldade, na janela defronte a sua, um sujeito na penumbra, apontando um rifle com o que parecia uma mira. Olhou para seu peito. Um ponto vermelho desenhava sinistramente um lemniscate em seu peito.
“Deus, é o fim...” - pensou de início. O lazer cessou sua brincadeira infantil e pôs-se a subir, tomando seu pescoço e ofuscando seu olho esquerdo.
“NÃO!” – pensou novamente, enquanto seu cérebro iniciava os cálculos, algo que não acontecia havia tempos.
Trajetória da bala, velocidade... Deduziu se tratar de um rifle nacional, pois, fanáticos como eram, não se dariam ao desfrute de utilizar uma arma de outro Estado. Desvio ao passar pelo vidro, diferença da mira para o cano. Milésimos de segundo se tornavam minutos em sua massa encefálica.
Esquivou-se para sua a esquerda inferior, inclinando levemente a cabeça para a direita, tornando sua caixa craniana um objeto passível de ricochetear balas, essa era sua aposta. Se fosse uma bala com ponta de urânio, seu plano falharia. Felizmente, não era.
A bala perfurante passou pela sua cabeça, cavando uma vala milimétrica e levando consigo uma gota de sangue. Ouviu-se um grito feminino vindo do apartamento ao lado. Mais uma vítima de bala perdida. Pobre Senhora Parker... Se não tivesse dito que eu estava em casa, tudo isso poderia ser evitado.
Rastejou pela sala, agradecendo a si mesmo pelo desleixo de deixar roupas previamente usadas no sofá. Com o cuidado de não ficar à mostra, vestiu-se num piscar de olhos, abriu a porta e correu.
O cérebro calculava. Escadas, elevador, térreo, rua... Muito óbvio. Escadas, telhado, escada de incêndio. Probabilidade baixa de erro. O agradecimento anterior transformou-se num dito de maldição, pelo fato de não conhecer o terreno.
Três passos de sua corrida haviam sido dados e o telhado era sua melhor opção.