03 fevereiro, 2009
Apenas uma conversa...
O meu ponto é, o que faz de mim um ser tão brutalmente preenchido pelo ódio? Mantenho minhas faculdades mentais o suficiente para saber que estou ficando louco. Não é a sede de sangue ou outro destes motivos clichês - é a vontade de destruir fisicamente algo que representa a destruição que me foi feita. Alma em pedaços também já é clichê demais... Eu diria apenas que perdi minha consideração pela vida destes homens e mulheres à minha volta. Perdi o meu espírito católico de viver e deixar viver. Católico? Hm, deixe para lá. Enfim...
Minhas mãos tremem. O que me faz voltar ao meu questionamento - que força sobre-humana enche o coração e as vontades de um homem com o mais puro ódio? O reflexo desta decadência triste a que meu mundo chegou? Seu mundo pode ser diferente, mas isso provavelmente indica que você não vive onde eu vivo. Não teve o que eu tive. Não passou o que passei. Ainda assim, me pergunto - você também estaria assim? Controlando o tremor de suas mãos, segurando um copo de champanhe, observando avidamente a um homem sujo, como uma águia que observa ao longe a presa sem qualquer piedade? É realmente inevitável ficar assim após o que passei? Ou esta é, na verdade, uma escolha minha, e mascaro para mim mesmo como inevitável e incontrolável pelo medo de assumir que sempre fui um assassino?
Psicologias demais, não é mesmo? Hora da ação. Talvez eu veja você por aí, outra hora. Você certamente me verá.
18 junho, 2008
Visitantes
Diário de bordo, ciclo 23568, Sonda Essex
Procedimento Um: Contato via ondas de rádio. Imediatamente após a entrada na atmosfera foi tentado estabelecimento de contato com os dispositivos emitentes dos sinais detectados em Mafria, conhecido neste planeta como Alfassentauri. Nenhuma resposta.
Procedimento Dois: Escaneamento da superfície do planeta. Localização: lugar conhecido por Saumpaulu. Aparentemente uma cidadela erguida com edifícios de rocha, metal e polímero natural. O caos era vigente e as formas de vida vistas nos vídeos não estavam lá. Ao invés disso, veículos vazios espalhados pelas avenidas e destruição por toda parte. Um avistamento mais detalhado mostrou a presença de pedaços de corpos e fluídos corporais dos seres antes viventes nesse planeta.
Procedimento Três: Escaneamento sonoro. Urros e gritos foram detectados a 1,7 decrons, 50 Km na unidade métrica do planeta. Novo objetivo detectado. Verificar origem dos objetos sonoros.
0,00001 ciclo de vôo: Contato visual efetuado. Três formas de vida detectadas. 49 seres em movimento. A aparente vida e pouca vitalidade mostrada pelas criaturas não era vida propriamente dita. Pareciam seres reanimados, sem funções vitais. As três formas de vida, acuadas numa edificação transparente gritavam de pavor. Os seres não-viventes romperam essa barreira e iniciaram o que pode ser chamado de ritual de alimentação. 0,0005 ciclos e haviam apenas pedaços dos corpos dos três seres ex-viventes. Último registro sonoro registrado: - Por favor, nos ajude!!!!
Procedimento Quatro: Escaneamento Global. Mini-sondas enviadas afim de cobrir toda superfície do planeta.
0,025 ciclo: Escaneamento completo. Nenhuma forma de vida inteligente detectada. Extinção completada. Aparente infecção virótica por parte de seres não-viventes. Coletar espécime para estudo... Fim de transmissão
17 maio, 2007
Diário de um mutante em potencial.
Um dia no inferno e uma noite no absurdo… Quando suas omoplatas crescem a ponto de se tornarem asas, sua mente vaga num extremo solitário onde só o menor dos ratos aparece. Voar? Impossível... São asas mortas, sem penas ou membranas. Mas estão lá e te acompanham, à medida que crescem. As portas abertas se fecham na sua mente... Serei eu? Ou será a música? O vinho, a cerveja? As ASAS?!?!!? O absurdo chega trazendo consigo uma garra afiada que rasga a carne e se delicia com o sangue. Pedras e ossos quebrados... Isso é passado, o presente é diferente. Harmonioso, linear... A certeza ainda é a arma dos idiotas. Quem tem certeza de alguma coisa, não vive, sobrevive. Mas elas continuam lá. Coçando a carne na parte superior de suas costas. Como os outros reagirão? Medo? Eu não pedi por isso e não sei o que aconteceu! A especulação do início é apenas isso, especulação... As certezas são incertas e as omoplatas ainda estão dentro dos meus ombros. Um anjo, voaria... um demônio decairia... Será mesmo? Morre Seco!
19 fevereiro, 2007
Fuga.
Numa explosão de adrenalina e pavor eu corri. O máximo que pude. Corri como um louco pelo meio das árvores, tropeçando em raízes, cortando minha pele e carne nos galhos dos arbustos. E quanto mais eu corria, mais tinha a sensação de insegurança. Parecia que eu não me afastava, muito pelo contrário, parecia que eu estava mais e mais perto. Respirar já era secundário, minhas pernas iam no automático e o cérebro já não funcionava corretamente. Vi uma luz. Não sabia a que distância, mas parecia alcançável. Acelerei, se é que isso era possível, mais e mais, até perder completamente o fôlego e cair num chão úmido e coberto por folhas. Me pus de joelhos, tentando sorver o ar com força. Meus pulmões se encheram e me ergui voltando a correr desenfreadamente. A luz se aproximava e já era possível ver alguns postes. Mais alguns metros e cheguei ao estacionamento de um bar. Era onde conseguiria ajuda contra meu perseguidor. No primeiro passo dado dentro do estacionamento, detrás de uma van, surge ele. Meus olhos se arregalaram: “Como pôde chegar aqui...?”. Ele se aproximou, sempre com aquele sorriso sarcástico nos lábios:
- Sabe que não pode fugir de mim...
Era eu mesmo... Sempre me forçando a fazer coisas que não queria. A resistência era inútil, sempre... Essa sina me perseguia e me mantinha vivo. Saquei o machete preso à minha jaqueta e fui para o bar, em busca de mais vítimas...
13 janeiro, 2007
Devaneios...
Acordo com luzes... Três, para ser mais preciso... Pergunto o que está acontecendo, mas de minha boca surge apenas um misto de saliva e sangue. Alguém limpa meu rosto e sinto um corpo estranho que percorre meu interior, desde a glote até o pulmão. A conversa gira em torno de uma casa de praia que precisa de reformas e mesmo assim foi uma pechincha. Alguém fala algo que não identifico e várias pessoas olham nos meus olhos.
Volto pro mundo real!? Talvez. Não sei mais o que é válido. A fome de viver é enorme e eu grito. Grito como um felino acuado e ferido, temendo pela vida. Alço vôo novamente. A aceleração se torna uma constante estranha. Temendo pela velocidade da luz, controlo-a e resisto a esses impulsos. A luz se aproxima e ainda não compreendo o sentido da situação. O que fazer? Serei eu onipotente aqui? Perguntas filosóficas surgem, vêm e vão como cerveja no estômago de um alcoólico. Maldita luz!!! Tento de afastar, mas ela me suga, como uma buraco negro...
1...2...3.. tzzzzzzz... Afffff.... Três luzes, muitos olhos... O QUE ESTÁ HAVENDO??? Mais sangue e pus. O alívio é quase palpável. Ouço algo a respeito de um acidente e de um político. Felicidades, presentes, melhoria de vida... Outrem irrompe o recito... BLAM, BLAM, BLAM, BLAM... mmmmfmfmfffff mmmmffffm mffffff....
-Tá me ouvindo agora, filho da puta!!! Você matou meu filho e mais 15 pessoas num ponto de ônibus... Todas mortas, porque o serviço público de saúde não consegue salvar ninguém, enquanto você está aqui, sendo salvo por estes 5 médicos. Vai pro inferno!!! BLAM... BLAM...