13 janeiro, 2007

Devaneios...

Zombando da atmosfera eu salto. Me lanço em direção ao espaço ficando uno com o ar que me cerca, cavalgando pelos ventos, enquanto lâminas cortantes de vapor d’água invisível cortam meu rosto. A sensação é extasiante e, depois de alguns segundos, vislumbro que o salto se tornou um vôo conciso e constante. Navegando pelos ventos uivantes (usando metade de um título de um livro antigo) sinto-me livre de todo grilhão imposto na juventude. A visão do mundo abaixo de mim diz que o comando me pertence e que nada pode me deter na busca pela verdade adquirida por cada ser humano presente na face da Terra. Continuo a voar, enquanto sobrevôo bairros conhecidos, casas de namoradas, de amigos, pontes, rios... Cada vez mais me aproximo do Sol. O grande astro, o Rei!!! A força vem dele, a divindade faz parte dele. A claridade aumenta a medida que me aproximo. Me lembro das aulas de ciências, onde os professores diziam que o sol ficava a muitos anos luz de distância. Subo, e continuo subindo, quando uma dor lancinante toma meu corpo. A queda é inevitável e minha mente se descontrola. Todos os anos de histórias em quadrinhos não me ajudam, pois a dor aumenta gradativamente e a preocupação com a aproximação do solo se agrava. AH, MEU DEUS!!!

Acordo com luzes... Três, para ser mais preciso... Pergunto o que está acontecendo, mas de minha boca surge apenas um misto de saliva e sangue. Alguém limpa meu rosto e sinto um corpo estranho que percorre meu interior, desde a glote até o pulmão. A conversa gira em torno de uma casa de praia que precisa de reformas e mesmo assim foi uma pechincha. Alguém fala algo que não identifico e várias pessoas olham nos meus olhos.

Volto pro mundo real!? Talvez. Não sei mais o que é válido. A fome de viver é enorme e eu grito. Grito como um felino acuado e ferido, temendo pela vida. Alço vôo novamente. A aceleração se torna uma constante estranha. Temendo pela velocidade da luz, controlo-a e resisto a esses impulsos. A luz se aproxima e ainda não compreendo o sentido da situação. O que fazer? Serei eu onipotente aqui? Perguntas filosóficas surgem, vêm e vão como cerveja no estômago de um alcoólico. Maldita luz!!! Tento de afastar, mas ela me suga, como uma buraco negro...

1...2...3.. tzzzzzzz... Afffff.... Três luzes, muitos olhos... O QUE ESTÁ HAVENDO??? Mais sangue e pus. O alívio é quase palpável. Ouço algo a respeito de um acidente e de um político. Felicidades, presentes, melhoria de vida... Outrem irrompe o recito... BLAM, BLAM, BLAM, BLAM... mmmmfmfmfffff mmmmffffm mffffff....

-Tá me ouvindo agora, filho da puta!!! Você matou meu filho e mais 15 pessoas num ponto de ônibus... Todas mortas, porque o serviço público de saúde não consegue salvar ninguém, enquanto você está aqui, sendo salvo por estes 5 médicos. Vai pro inferno!!! BLAM... BLAM...

Nenhum comentário: