25 setembro, 2006

Eu, zumbi... ou Saindo do Buraco (literalmente) - 1ª parte

- Que porra é essa!!?? Quem me prendeu aqui???
Assim acordou Marcos, numa escuridão completa e sufocante. O lugar onde estava mal dava para se mexer e, com o desespero já tomando conta, começou a se debater e gritar. Era uma espécie de caixa de madeira, forrada e macia. Se a parte de cima fosse uma tampa, começava a ceder. Os socos enfraqueciam cada vez mais a madeira que começava a rachar e pingar um pouco de água suja. Passou a empurrar e, talvez devido à adrenalina presente no corpo humano quando em situações difíceis, conseguiu mover a tampa para cima, fazendo cair um pouco de terra em cima de si mesmo:
- Caralho!!! Eu tô enterrado!!!
Nisso a tampa cedeu, dando lugar a uma enxurrada de terra úmida. Ele deu início a uma escavação frenética, pensando em o que aconteceria se o ar acabasse. Foi subindo, subindo, cercado de lama e sujeira até que sua mão alcançou a superfície:
- Consegui, falta pouco, AAAAAHHHHHH!!!!!
Foi a força que precisava para continuar. Saiu do buraco como que estivesse preso por dias e dias, ávido por comida. Saltou para fora e tomava fôlego... Fôlego? Olhou para suas mãos, que após os socos, empurrões e escavações deveriam estar banhadas em sangue quente e jorrante. O que descobriu foram feridas abertas, secas e uma pele esbranquiçada como leite. Tentou empurrar ar para os pulmões. Isso o fez muito mal, a ponto de causar ânsia de vômito. “Não estou mais respirando???”, pensou e nesse momento se deu conta de onde estava. Um cemitério!!! Pulou para trás como quem quer se afastar de tudo acabando por bater com a cabeça em uma pedra. Olhou para trás e leu a inscrição: “Marcos Pessanha, 1975 – 2003”:
- QUE PORRA DE BRINCADEIRA É ESSA!?!?! – recusou-se a acreditar.
Não podia estar morto! Mortos não falam, não andam e muito menos cavam! Pensou em um pesadelo e tentou acordar, mas a sirene de uma viatura da polícia o mostrou que estava no mundo real. Catalepsia!!! É isso! Sofro dessa doença e todos acharam que estava morto... Mas como explicar as feridas sem sangue e a não-respiração. Notou estar vestindo um terno. Nunca usara um terno antes, a não ser quando foi padrinho de casamento de um amigo. Lembrou-se dos filmes e resolveu abrir a camisa, para ver os pontos da autópsia. Constatou que seu tórax parecia um pedaço de carne recheada, costurada com linha grossa, pronta para assar. “Tenho que sair daqui! Arrumar um lugar pra pensar...” e foi isso que fez. Levantou-se, limpou-se como pode, sendo que a chuva o ajudara com a lama. Quando resolveu caminhar ouviu uma voz:
- Tem alguém aí?? Malditos jogadores de RPG... Por que não vão ao IML para ver um corpo!!!
Devia ser o zelador do cemitério! Acocorou-se próximo à lápide, para se esconder. Não era muito fácil, pois 1,80m de carne atrás de uma lápide de 1m complicava bastante. Mesmo assim, manteve-se quieto até que os passos do estressado zelador se afastassem. “Ufa, estou salvo... Salvo de que? Eu tô morto!!!”, notou atrás de si um movimento, virou-se rapidamente a tempo de ver um cão, desses vira-latas peludos, olhando para ele, como se visse um novo dono:
- Oi cachorrinho. Não lata, por favor.
O cachorro simplesmente inclinou um pouco a cabeça, como quem está dizendo “Queisso?”:
- Quietinho, isso, bom garoto...
O cachorro se aproximou e começou a cheirá-lo. Não como um cachorro geralmente cheira uma pessoa e sim como cheira um osso que enterrou a uns dias atrás:
- Ei, ei. O que você quer? Já estou até imaginando.
E pôs-se a caminhar, seguido pelo cão. Quando finalmente achou o portão, viu que este estava trancado. “Nos filmes é sempre fácil entrar no cemitério”, pensou enquanto subia no portão. Chegando ao topo, desequilibrou-se e despencou lá de cima, como uma jaca que cai do pé, batendo violentamente contra o chão de cimento frio. Não sentiu dor alguma e logo se levantou para ver o cão vindo em sua direção, saindo de um buraco no muro do cemitério, que ele mesmo poderia ter usado para sair:
- Grande ajuda, cachorro... – disse enquanto o cão começava a cheirá-lo novamente. – Hmmm... Esse deve ser o Cemitério Santa Luzia... Acho que é melhor ir pra lá. – e, quando levantou seu braço direito, para apontar a direção, viu que estava quebrado. A queda o partiu em dois:
- Puta que pariu... E essa agora, como vou colocar essa merda no lugar? Será que se eu segurar um pouco ele cola novamente? – nunca foi bom em biologia e nem sabia que osso tinha quebrado, se lembrava de que tinha cálcio e pensou que o cálcio do osso que estava preso no corpo poderia “colar” no cálcio do braço quebrado. Apesar do pensamento imbecil, aparentemente funcionou e nesse momento ele se achou um especialista em medicina, apesar de ter estudado desenho.
- Lugar sinistro pra se andar à noite... Posso ser assaltado. Mas quem vai assaltar um morto??? – achou graça e foi andando pela rua. Um lugar que freqüentava quando era mais novo e andava com a turma do heavy-metal ficava a alguns quarteirões dali. E foi andando na chuva, acompanhado pelo cão, este sempre cheirando sua perna, para o bar.

Um comentário:

Anônimo disse...
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