16 setembro, 2006

Breve apanhado da história dos quadrinhos na Europa e nos EUA (até anos 80). - 1ª parte

Buscar a origem das histórias em quadrinhos chega a ser pretensioso da parte de quem o faz. Alguns fazem alusão à pré-história, com suas pinturas rupestres, outros ainda remetem a Roma antiga, quando colunas eram esculpidas com a vida de determinados imperadores, porém numa coisa todos concordam; o “boom” aconteceu no século XX, quando os “comics” norte americanos ganharam o mundo. Iniciemos esse breve resumo pela época mais antiga.
De acordo com a história da arte, os homens das cavernas utilizavam a pintura como forma de demonstrar sua superioridade frente aos outros animais, acreditando que assim detinham o poder sobre os mesmos. Dessas pinturas, chamadas rupestres, que significa “o que se encontra em rochedos”, pode-se observar uma série de características típicas dos quadrinhos atuais, como sobreposição de imagens e arte seqüencial.
Num segundo momento, através dos hieróglifos, os egípcios mostraram sua capacidade de deixar para a posteridade sua história, decorando seus templos e túmulos e usando muitas vezes o poder da arte seqüencial para narrar as histórias dos deuses e faraós.
Na Roma antiga, a coluna de Trajano baseava-se em monumento criado no Egito onde a história de determinada personalidade, imperadores ou faraós, era contada em forma de uma seqüência de esculturas em relevo, ao redor da coluna, subindo em espiral.
Finalizando essa tentativa de se encontrar os antecedentes diretos dos quadrinhos, ainda pode-se citar a tapeçaria de Bayeux, feita na Inglaterra e com 70 metros de comprimento, onde há um relato da epopéia dos cavaleiros normandos. Essa tapeçaria é considerada “a maior banda desenhada do mundo”.
Esses primórdios ainda não possuíam uma das principais características das atuais HQ’s (apelido carinhoso dos quadrinhos): os balões. A primeira representação de “fala” em uma imagem data de 1370 e é conhecida como a tábua Protat, na qual um centurião romano, diante do Calvário, levanta um dedo em direção à cruz e declara: “Vere filius Dei erat iste” (“Sim, na verdade esse é o filho de Deus”). De sua boca, sai um filactério (designação antiga do balão), contendo essa mensagem.
Esse pequeno apanhado das origens dos quadrinhos remetem a uma época onde essas imagens não eram usadas para entretenimento e sim para fins de relatos históricos. É a partir de 1806, com as estampas de Épinal (pequenos cartões de madeira confeccionados nas oficinas de Péllerin de Épinal, na França, iniciando com temas religiosos, logo passando para temas históricos), que o termo “história em quadrinhos” pode ser usado, pois essas estampas possuem legendas, transformando-se assim numa história contada.
Nessa mesma época, aparecem nomes que seriam importantes para o desenvolvimento mundial dos quadrinhos. Seus nomes eram Topffer e Busch. Topffer foi autor de histórias fantasiosas em imagens: “As Aventuras do Sr. Vieuxbois, do Sr. Cryptogame, do Sr. Jabot”, em 1847, reunidas sob o título de Histories em Estampes. Wilhelm Busch ilustrou seus próprios poemas satíricos ou moralistas, do quais o mais conhecido é “Max und Moritz” (Juca e Chico no Brasil), grande influência para a criação de uma das mais famosas tiras do mundo, Os Sobrinhos do Capitão. No século XVIII muitos foram os quadrinistas europeus que desenvolveram a arte dos quadradinhos e, além dos já citados Topffer e Busch, Christophe (alcunha de Georges Colomb) foi maior nome francês do gênero. Colaborador do Petit Français Illustré, um jornal voltado para o público infantil, ele começou criando tiras para seu filho. “La Famille Fénouillard” foi sua criação máxima, fazendo-o ser reconhecido mundialmente. Até hoje, na França, ele é reconhecido como o criador das HQ’s.
Nesse período, os Estados Unidos encontravam-se em atraso com relação a Europa, usando apenas o recurso da sátira política e social em seus jornais e revistas. A partir de 1880, com o aparecimento das revistas humorísticas, os quadrinhos norte americanos iniciaram um crescimento enorme, chegando até os dias de hoje.
No final dos anos 1880 e início dos 1890, dois jornais disputavam a preferência do público em Nova York, O New York World, de Joseph Pullitzer e o Morning Journal de William Randolph Hearst. Em 1893 Pullitzer, vendo que seu jornal estava caindo em decadência, resolveu se dedicar mais aos suplementos dominicais, produzindo a primeira página colorida de quadrinhos do mundo. O artista era Richard Outcault e a tira era “Down Hogan’s Alley” (O beco do Logan), de onde saiu o mais famoso personagem da época, “Yellow Kid” (um menino com uma camisola amarela, que só ganhou essa cor por ser a única cor que ainda não tinha conseguido ser impressa antes). Vendo o desenvolvimento do concorrente, Hearst contratou Outcault e “O beco do Logan” passou a ser editado no Morning Journal, juntamente com “The Katzenjammer Kids” (Os sobrinhos do Capitão) de Rudolph Dirks.
Partindo desse princípio, vejamos a cronologia dos quadrinhos, com seus criadores e personagens mais importantes:

A Pré-História e o Período inicial dos Quadrinhos:

Período da Pré-História

1820 - Jean Charles Péllerin publica as Estampas de Épinal, na França.
1846-1847 - Rodolf Topffer publica “Histoires en estampes”, ainda na França, contendo as aventuras de “Monsieur Vieux Bois, de Monsieur Cryptogame e de Monsieur Jabot”.
1865 - Wilhelm Busch cria, na Alemanha, “Max und Moritz” (Juca e Chico).
1884 - F. Thumas, na Inglaterra, cria “Ally Sloper”.
1889 - Georges Colomb (Christophe) lança a “Família Fénouillard”, na França.
1895 - A Bonne Presse, na França, edita “Le Nöel”.

Período Inicial: 1895 a 1909.

- 1895 - Outcault faz surgir o “Yellow Kid” no jornal New York World (jornal de Pullitzer). Aparece o primeiro verdadeiro "balão" das HQ.
- 1897 - Rudolph Dirks cria os “Katzenjammer Kids” (Os Sobrinhos do Capitão, no Brasil), no New York Journal.
- 1902 - Surge uma nova criação de Richard Outcault, “Buster Brown”, um garoto louro, esperto e bem vestido, sempre acompanhado de seu fiel cão Tige, personagem publicado no New York Herald, onde Outcault passara a trabalhar.
- Gustave Verbeck, ilustrador e gravador holandês, cria os “Upside Downs”. Esta série conta as aventuras de Little Lady Lovekins e Old Man Mufaroo. Sua importância está no fato de que após ler cada história, basta virá-la de cabeça para baixo para que a ação continue sem interrupção.
- 1904 - Surge a primeira tira diária no American de Chicago, por Clara Briggs (A Piker Clerk). Essa tentativa não foi muito feliz. Em 1907, seria repetida com sucesso por Bud Fisher.
- 1905 - Winsor McCay cria a HQ “Little Nemo in Slumberland” (O Pequeno Nemo no País do Sonho), verdadeira obra-prima de elegância, simplicidade e poesia.
- 1906 - Lyonel Feininger, mais tarde um pintor célebre, de nacionali¬dade alemã, cria para as tiras diárias do Chicago Tribune várias histórias das quais a mais conhecida é a “Kin-der-kids”. Um garoto magricela e seu amigo gordo viajam ao redor do mundo, em busca de aventuras cômicas ou fantásticas.
- 1907 - Bud Fisher, retomando a tentativa frustrada de Clara Briggs, publica a primeira HQ diária autêntica (daily strip), com as aventu¬ras de A. Mutt, turfista malandro pouco recomendável que sempre termina com uma sugestão para as corridas do dia seguinte. Em 1908, Mutt encontra seu companheiro num asilo de loucos e a história toma seu titulo definitivo de Mutt e Jeff. Após a morte de Fisher a série vem sendo desenhada por Al Smith.
- 1908 - Louis Forton cria na França um dos clássicos do gênero: “Les Pieds Nickelés”, no jornal L'Épatant, lançado em 1907 pela Société Parisienne d'Éditions. É a história de três comparsas, ladrões, tra¬paceiros, ricos em invenções. Além do desenho terrível, Forton coloca texto sobre os quadrinhos, completando muitas vezes com os balões. Aí são encontradas, segundo os franceses, as primeiras onomatopéias. Embora tendo aparecido num jornal infantil, realmente é uma história para adultos, por suas sátiras políticas e moral abalada.
- É lançado na Itália o Corriere dei Piccoli e então a Itália começa a criar personagens para as HQ. Atilio Mussino cria “Bilbolbul”, negrinho que sofre desilusões na África, povoada de fantasias em suas pro¬duções. Não havia balões nessa história, mas versos sob os desenhos, criação eminentemente italiana.
- 1909 - O cinema e as HQ (comics) unem-se, quando se realizou o primeiro desenho animado de valor: Gertie, o dinossauro, criação de Winsor McCay.

Encerra-se aqui o Período de 1895 a 1909, considerado por alguns estudiosos como o período de ouro da HQ, por ser uma época de introdução de grandes inovações e de liberdade para a expressão do talento e da originalidade dos desenhistas.

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