25 setembro, 2006

Breve apanhado da história dos quadrinhos na Europa e nos EUA (até anos 80). - 2ª parte

O PERÍODO DE ADAPTAÇÃO E A DÉCADA DE 30

PERÍODO DE ADAPTAÇÃO: 1910 A 1928.


Este período recebe do anterior uma multiplicidade de estilos de HQ, então nascente. Caracteriza-se pela coexistência de duas correntes opostas entre desenhistas: a) a dos humoristas que vêem na HQ apenas um divertimento e um entretenimento. b) a dos estudiosos, que pretendem intelectualizar os quadrinhos, explorando-os formal e narrativamente. As histórias e os personagens marcantes desse período acham-se indicados a seguir.

- 1911 - George Harriman lança “Krazy Kat” narrando as aventuras de um eterno triângulo: a gata Krazy Kat, apaixonada por um camundongo, Ignatz, que a detesta e a castiga habitualmente com tijoladas e o cão de guarda Ofissa B. Pupp, enamorado de Krazy. O cão persegue ,constantemente Ignatz, a quem sistematicamente agarra para atirá-lo numa cadeia. Harriman é lídimo representante da tendência intelectualizante desse período. Krazy, no dizer do próprio Harriman, é "a exploradora vagabunda das regiões da ilusão, que só os ventos percorrem durante o dia e o luar durante a noite.”.

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- 1912 – Prossegue nesta época a rivalidade entre Hearst e Pullitzer. Em 1912, quando Rudolph Dirks, criador dos “Katzenjammer kids” sai do Journal para o World, Hearst não permite que o mesmo leve, os personagens por ele criados para o World. No tribunal, foi decidido que Dirks teria o direito de desenhar seus personagens no World com um novo título, “Hans e Fritz”, como os chamou inicialmente, para mais tarde, denominá-los de “The Captain and de Kids”, nome que é mantido até hoje, inclusive no Brasil (Os Sobrinhos do Capitão). O Journal teria direito aos mesmos personagens e ao título original da história, que passaria a ser desenhada pos outros profissional. O substituto de Dirks foi Herald Knerr que, com seu talento, foi suficientemente capaz de prosseguir com as historietas com o máximo de semelhança tornando-se imperceptível a substituição do desenhista.
- 1913 – Criada por George McManus, surge nos EUA a HQ mais marcante desta época, “Bringing up the Father” com Jiggs (Pafúncio) como protagonista, um trabalhador que enriqueceu repentinamente, acompanhado de Maggie (Marocas), sua exposa, ex-lavadeira que rapidamente se torna esnobe, esquecendo suas origens, o que não ocorre com o Pafúncio. Os conflitos familiares são tão bem explorados por McManus que Pafúncio e Marocas constituiu a primeira HQ que se tornou internacionalmente famosa. O tema da vida em família, a partir de então, passou a ser explorado por grande número de HQ que a ela se seguiram.

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- 1917 - Sydney Smith, seguindo a mesma linha de McManus, lança “The Grumps”, nos EUA.
- 1919 - Frank King introduz nos EUA uma nova série: “Gasoline Alley” com uma inovação importante: o envelhecimento progressivo dos personagens, no mesmo ritmo de seus leitores.

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- BilIy De Beck cria Barney Google, homenzinho de polainas e chapéu coco que passeia pelos EUA acompanhado de um cavalo de corrida. Um personagem secundário, o camponês Snuffy Smith, acabará por destronar Barney do papel principal da história. Snuffy aparece no Brasil com seu próprio nome ou mudado para "Zé Fumaça".

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- Elzie C. Segar lança o “Thimble Theatre” (Teatro do Dedal), série que conta a aventura de uma família maluca.
- A. B. Payne cria Pip (o cachorro), Squeak (o pingüim) e Wilfred (o coelho), animais humanizados publicados no Daily Mirror.
- 1920 - Ainda na mesma tendência da exploração do tema família, surge “Winnie Winkle”, criada por Martin Branner.
- Mary Tourtel cria Rupert, ursinho herói da série “The Adventures of the little lost Bear”. Os animais que vivem como seres humanos ga¬ nham, assim, lugar definido nas HQ.
- 1922 - Ed Wheelan lança “Minute Movies”, série injustamente esquecida, que explorando temas de aventuras emprestados de Ivanhoé e Ilha do Tesouro introduziu o dose up na apresentação dos personagens, mesmo antes de sua introdução no cinema. .
- 1924 - Na França, o criador de “Pieds Nickelés”, Forton, apresenta um novo personagem, “Bibi Fricotin”, garoto de rua ao estilo francês.
- Pat. SuIlivan desloca do desenho animado para a HQ um gato triste, solitário, faminto e melancólico que não consegue sequer ser feliz no país dos sonhos, de onde em geral é expulso a pontapés. Trata-se do Gato Félix.
- Harold Gray lança as desventuras de uma órfã na série “Little Orphan Annie”. Gray, segundo alguns autores, teria introduzido na HQ uma nova tendência: a HQ que reflete claramente uma ideologia política (de extrema direita, neste caso), representada pela encarnação simbólica do capitalismo triunfante, por Papai Warbucks, riquíssimo industrial que sempre protege a órfã Aninha.
- Roy Crane cria “Wash Tubbs” (Tubinho, no Brasil), ponto inicial das HQ de aventuras. Tubinho ganhará, mais tarde, um amigo, que acabará "roubando" o papel principal da história, o Capitão César.
- 1925 - Importante série de aventuras é lançada pelo mestre das HQ na França. Alain Saint-Ogan, jornalista que se transfere para as HQ, criando para o “Dimanche lllustré” dois heróis, um gordo ruivo e outro magro com cabelos ruivos, Zig e Puce, aos quais em 1926 ele junta Alfred, um pingüim. Zig e Puce marcam uma época importante para as HQ francesas por empregar seu criador exclusivamente os balões e, em geral, um cenário tirado ao vivo para os quadrinhos, fixando os lugares por onde viajavam os personagens.
1928 - Surge nos EUA o desenho animado de Mickey Mouse por Walt Disney. O rato mais célebre do mundo entrará em 1930 para as HQ.

A PERÍODO DOS ANOS 30: EXPLOSÃO DOS QUADRINHOS

A renovação da HQ americana, que começa a aparecer no mundo inteiro, processa-se realmente nos anos 30, sendo antecedida de produções características já em 1929. Nesta década as adventure strips (HQ, de aventuras) iriam ganhar uma grande independência.

- 1929 - Harold Foster coloca em quadrinhos o tema da selva e do homem macaco em Tarzan (desenhado por Foster até 1937 e, a seguir, por Burne Hogarth.). O personagem romanceado de Edgard Rice Burroughs ganhou maior importância nos quadrinhos e no cinema. (Observe-se que Foster nunca empregou os balões em Tarzan, mas uma narrativa direta incorporada aos quadrinhos).
- Concebido por John F. Dille, escrito e adaptado por Nowlan e desenhado por Dick Calkins, surge “Buck Rogers”, antigo tenente da aviação americana que é transportado para o século XXV. Buck entra em luta na terra, no mar e no espaço contra seu rival Killer Kane, cujo sonho é roubar Wilma, noiva de Buck Rogers, e subjugar a terra inteira. Esta foi a primeira história a tratar de forma interessante os temas de ficção científica.
- Elzie Segar cria seu personagem mais original e duradouro: um marinheiro caolho, de antebraços hiperatrofiados, por consumir muito espinafre, cujo nome era Popeye, que, tendo sido introduzido como personagem secundário, em breve passou a ser o personagem central do Timble Theatre (Teatro do Dedal). Popeye mal sabe ler e ignora boas maneiras, mas é dotado de um nobre coração. Isto o leva a apaixonar-se pela feia Olivia Palito. Popeye está sempre às voltas com rivais que querem roubar Olivia, mas consegue sempre vencê-los graças ao espinafre. Em torno de Popeye, há bom número de personagens interessantes, além de Olivia Palito, tais como Popa Popeye (o pai centenário), seu filho Swe-pea (Procopinho), Jeep (animal que sabe e diz sempre a verdade) e Wimpy (Dudu), intelectual parasita com enorme apetite por hamburger. Após a morte de Segar em 1938, a história continuou com Tom Sims, Bela Zaboly e Bub Sagendorf.
- Georges Remi (Hergé) cria na Bélgica, no suplemento semanal do diário Le Vingtième Siecle, o personagem que será o valete da HQ européia: Tintin, escoteiro adolescente, acompanhado de seu cachor¬rinho Milou, do capitão Haddock, o biruta Tournesol e os bobocas Dupont e Dupont com suas trapalhadas cômicas. Em 1930, Hergé publica seu primeiro álbum: Tintin au pays des soviets.
- Darrell McClure lança as aventuras de uma menina, “Little Annie Rooney”, e seu fiel companheiro, o cão Zero.
- O camundongo Mickey Mouse, de Walt Disney, é introduzido nos quadrinhos.
- Surge “Joe Palooka” (Joe Sopapo), de Ham Fisher, história de um boxeador com punhos de aço e coração de ouro.
- Noel Sikles continua a desenhar “Scorchy Smith”, criado por John Terry. Foi quem utilizou pela primeira vez o desenho a pincel.
- 1931 - Chester Gould cria “Dick Tracy”, herói de aventuras policiais. Do¬tado de exemplar honestidade, Dick Tracy foi criado em traços exa¬gerados por Gould, num estilo quase caricatural, com nariz em forma de bico de águia e queixo quadrado, desempenhando a função de um agente policial sempre em luta contra o crime.
- Robert E. Howard dá origem a Conan, o guerreiro cimério da era hiboriana.
- Carl Anderson lança Henry (Pinduca ou Carequinha).
- 1933 - William Ritt e Clarence Gray criam um cavaleiro do espaço: “Brick Bradford” (conhecido no Brasil com esse mesmo nome ou como Dick James). Suas aventuras são ora policiais, ora fantásticas, ora de ficção científica. Viaja através do espaço e do tempo à procura de um tesouro de piratas ou de uma civilização do futuro, buscando penetrar os segredos do átomo.
- Alex Gillespie Raymond, aquele que é tido como o "mais completo de todos os grandes criadores de HQ", cria Flash Gordon, uma série de ficção científica; O “Agente X-9”, história de aventuras policiais; e “Jim das Selvas” (Jungle Jim), história de aventuras exóticas. O Agente X-9 nasceu em resposta a Dick Tracy, em colaboração com o romancista americano Dick Hammet. X-9 é um agente do F.B.I. que combate o crime insinuando-se entre os criminosos e utilizando seus hábitos e até seus métodos. O fato de não ter um nome e sim um código (X-9) aumenta o seu caráter misterioso. Bradley, o Jim das Selvas, é um caçador de feras e explorador da África e do Oriente Médio que, sempre junto de seu servidor hindu Kolu e de sua companheira Lil, consegue sobrepujar inimigos, traficantes, pi¬ratas e agitadores. Sua história aproxima-se da de Tarzan. Na série Flash Gordon, três personagens principais do Planeta Terra, Flash, sua noiva Dale e o professor Zarkov, chegam ao Planeta Mongo e ali se vêem às voltas com o Imperador Ming. É grande o poder de imaginação de Raymond, que apresenta paisagens maravilhosas do reino das sombras, da cidade submarina do país dos homens azuis. Flash Gordon sempre triunfa sobre Ming, a encarnação do mal, depois de combates violentos. Em Raymond há uma unidade perfeita entre a imagem e a ação e um estilo incisivo e claro que lhe garan¬tiram o sucesso obtido.
- 1933 - É lançada “Funnies on Parade”, primeira revista de HQ, distri¬buída a titulo de propaganda, pela sociedade Procter and Gamble (produtora de produtos de beleza). Em virtude do sucesso dessa edição, publicaram-se várias outras, tais como Famous Funnies em, 1934 (reproduzindo, como a primeira revista publicada, as séries aparecidas na imprensa) e New Fun, em 1935, a primeira revista original de HQ.
- Lançamento de “On the Wing” (posteriormente denominada Smilin’ Jack), de Zack Mosley, que narra as aventuras de um herói aviador, o capitão Jack. No Brasil, a história apareceu como Jack do Espaço.
- 1934 - Nasce Luluzinha (Little Lulu), pelas mãos de Marge Henderson Buell, considerada pioneira do sexo feminino na profissão de cartunista.
- Lee Falk e Phil Davis criam Mandrake, o Mágico que, com sua cartola e sua capa vermelha e preta, passeia por toda a parte acompanhado por Lothar, africano de grande força física. Mandrake hipnotiza seus adversários, vencendo-os com relativa facilidade, porém encontra um adversário dotado de poderes de magia negra, O Cobra, que lhe cria os maiores problemas no setor da fantasia.
- Al Capp (Alfred G. Caplin) cria “L'il Abner” (Ferdinando, no Brasil) com um humor bem diferente do que existia até então, satirizando aspectos da vida e da sociedade americana. Com sua ingenuidade e inocência, Ferdinando triunfa sobre todos os inimigos, mas sucumbe à corte de sua namorada, Daisy Mae, com quem é obrigado a se casar (1952), por pressão da opinião pública americana. Ele vive em Dogpatch (Brejo Seco), vilarejo pobre sem eletricidade nem água encanada, com seus pais, monstruosos anões, e toda a sua família. Al Capp foi apontado pelo romancista americano John Steinbeck como o maior escritor contemporâneo e por este indicado à consideração da comissão do Prêmio Nobel, de 1953.
- Aparece o “Reizinho” (The Little King), de Oto Soglov, criado originalmente na revista The New Yorker.
- Vincent T. Hamlin cria “Alley OoP” (Brucutu), à semelhança do Popeye. Trata-se de um homem das cavernas que, montado em seu dinossauro, consegue estabelecer a ordem no reinado de Mu. Por sua noiva Ula, bate-se incessantemente e quando está cansado dos tempos pré-históricos, a imaginação de Hamlin permite que o herói se valha da máquina do tempo do Professor Papanatas chegando à época de Cleópatra ou das Cruzadas.
- Na França, A. Daix cria um personagem arquitradicional distraído e com muitas piadas também tradicionais - O Prof. Nimbus.
- 1935 - Fred Harman lança o rude e autêntico western com Bronco Piler (mais tarde Red Ryder, ou o Cavaleiro Vermelho) como per¬sonagem central.
- Na mesma linha de ação no Oeste, mas com características policiais, aparecem outras duas séries: uma criada por Allen Dean, The King of the Royal Mounted (O Rei da Polícia Montada), e outra criada por Flanders, The Lone Ranger (O Zorro).
- É lançada a revista New Fun Comics, a primeira editada por aquela que se tornaria uma das principais editoras de quadrinhos da história, a DC Comics, ainda com o nome de Allied National Magazines. Nela estrearam “Sandra of Secret Service”, “Don Drake on the planet Saro”, “Barry O’Neil” e posteriormente, “Dr. Ocult”, primeira criação da dupla Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem.
- 1936 - Associado a Ray Moore, Lee Falk cria um justiceiro mascarado que reina em selvas longínquas e pertence a uma dinastia estabelecida no século XVII: The Phantom (O Fantasma).
- 1937 - Inspirado nos romances de cavalaria, Harold Foster cria um novo personagem, que lhe dará o título de representante da tradição clássica na HQ: trata-se do Príncipe Valente, filho de um rei destronado de Thule, que se refugia na corte do Rei Arthur. Pelo amor à sua dama (Aleta) e a serviço de seu suzerano, Valente trava combates com dragões e bruxas, com os vikings e os hunos. É a Idade Média representada nas HQ pelo talento de Foster.

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- Will Eisner lança sua primeira criação, Sheena, a Rainha da Selva. Uma versão feminina do Tarzan.
- É criada a revista Detective Comics, onde os heróis mais detetivescos da editora eram publicados, daria nome, posteriormente, a DC Comics.
- 1938 - No Action Comics, criação de Jerry Siegel e desenho de Joe Schuster, surge o Super-Homem, o último sobrevivente do longínquo planeta Krypton. É capaz de voar e é dotado de poderes sobrenatu¬rais com sua visão de raio X. Sem sua capa com o famoso S, ele nada mais é do que Clark Kent, repórter comum Que não é reconhe¬cido sequer por Lois Lane, colega de redação de quem ele gosta e a quem salvou numerosas vezes como Super-Homem. O sucesso do Super-Homem foi muito grande, incentivando o aparecimento de uma legião de super-heróis.

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- Apesar da invasão dos mais diversos tipos de aventuras e heróis nas HQ, o humor sempre tem seu lugar. É neste ano que “Donald Duck” (Pato Donald), personagem famoso dos desenhos animados de Walt Disney, vai para os quadrinhos.
- Alfred Andriola, inspirado no personagem de Earl Derr Biggers, passou Charlie Chan para os quadrinhos. É a história de um detetive chinês e seu auxiliar Kirk Barrow, que perseguem os malfeitores em todo o mundo, em aventuras com suspense e imprevistos.
1939 - Bob Kane cria Batman, o homem morcego, estreando na revista Detective Comics, que será "um verdadeiro delírio" nos EUA, por volta de 1965.

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