21 janeiro, 2010

Reticências 6

Como eu gostaria de correr com as minhas pernas de ontem!

Pisei ofegante o topo do prédio. Nove andares, até que não é tão alto. Ou será que deveria considerar minha trôpega condição?

Os riscos de chumbo no céu azul. Os riscos que corro se não saltar. Correr, saltar, eu não sou mais um atleta olímpico.

Meus dias de herói são páginas de jornal, meus nomes são passado. Tanto a alcunha de batalha, como o que constou na certidão, hoje trancada em um arquivo de pó.

O salto de um herói. A queda de um homem. A história de uma vida.

Sorte que mantenho o equilíbrio no momento de aterrissar. Azar que os disparos continuam, vindos agora de outro ponto.

Meu plano de fuga havia sido traçado nos míseros segundos que vi a área de cima. Terrenos de mato descuidado me escondem até alcançar um local que julgo seguro.

O sol inimigo pode revelar minha posição, e o vento confronta meu corpo, quase que completamente alterado por experiências. Algumas bem, outras mal sucedidas.

Porra, só agora me dei conta: esqueci as malas! Deixei sobre a cama! Tudo o que eu tinha! Resta apenas a roupa do corpo!

Um veloz processador na cabeça, que permite uma imperdoável falha emocional.

Como eu gostaria de poder pensar com o meu cérebro de ontem!

Um comentário:

Franci23 disse...

Gostei do conto... Bebí uma pelo blog!