15 dezembro, 2009

RETICÊNCIAS 2

Afastar-se um passo foi um reflexo, uma tentativa de vã sobrevivência, mesmo sem ameaça. O recém retorno da dimensão de Orfeu ainda o deixava confuso. Ou seria outra dimensão?
Como Adão no Paraíso Perdido de Milton, busca explicação para tais fatos inexplicáveis. Ou seria apenas destempero mental?
A figura do entregador o atormentava, tal qual a serpente, depois chamada Satã. A dúvida acometia cada vaso sangüíneo de seu corpo e cada órgão, como se transportada por hemácias insurgentes.
Fúria e medo se faziam presentes, enquanto seu cérebro produzia energia elétrica suficiente para iluminar uma lâmpada – “Como isso pode estar acontecendo?” – “Será um engano... Tenho certeza! Ninguém sabe onde estou...” – “Mas se alguém souber, estou condenado!”.
Teus pensamentos, agora mais amalgamados que antes, o levaram por caminhos não antes percorridos. Ou seriam lembranças anteriores? Ou pior, posteriores? Levou a mão à fronte, tentando conter uma pontada de enxaqueca que se anunciava, como o tema inesquecível de Tubarão.

Um quarto toque de campainha é ouvido, seguido por um conjunto de toques estridentes da aldraba pendente em sua porta e de uma solicitação recheada de sotaque castelhano:
- Señor, sei que está aí. Sua vizinha de porta avisou. Por ordem da empresa, devo entregar a encomenda em mãos. Aqui diz: Urgente e Frágil!

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