11 agosto, 2008

Justiça Popular

"O... O que aconteceu? Onde estou? Ai minha cabeça..." - quando se retorna do limbo da inconsciência, geralmente esses pensamentos clichês são os primeiros que passeiam pela cabeça das pessoas, principalmente quando essa pessoa desperta numa escuridão total e, aparentemente, atado a uma espécie de cadeira após ser atacado por um instrumento de contusão na cabeça:
- Eeeei!!! Onde eu tô? Tem alguém aí??? Me solta, SOCORROOOO!!!
Notou que sua respiração era difícil e puxou o ar com força; um pouco de sangue coagulado de seu nariz quebrado entrou faringe adentro, fazendo-o tossir:
- Meu Deus... O que aconteceu comigo? Quem está aí, SOCORROOOOO!!!

- Pode-se ver que acordou... - uma voz na escuridão.
- Quem... Quem é você? O que quer comigo?
- Você já deve ter notado que não está em posição de exigir nada... Sua vida está nas mãos de outras pessoas...
- QUE? COMO...
- Silêncio... Quando for tua vez de falar você será avisado. Conheço tua história. Sei o que eventualmente representa pra tua família e pra sociedade. Puritanismo e regrado fazem parte de sua vida...
- Tu sabe com quem tu tá...
Um tapa é desferido violentamente contra o rosto do indivíduo preso, fazendo-o expelir mais sangue e sentir muita dor. Seu nariz estava quebrado e o ferimento fôra novamente aberto:
- Eu te avisei... Continuando, sua família sempre o mimou e o tratou como sucessor de um dos maiores defensores dos valores humanos de nossa sociedade. Investiguei teu pai... Apesar de alguns absurdos, somos um pouco parecidos. Ele tem soluções interessantes para determinados assuntos. Eu cumpro determinadas soluções. Ele me taxa de bandido, ou "meliante", como ele prefere e diz que um poder paralelo e não autorizado pela sociedade deve ser extirpado. Infelizmente, não é o que acho. Não precisei ir muito longe para saber de você o que já era bem comentado por muitas pessoas. Apesar do berço de ouro e de todas as oportunidades, você contribui para um poder paralelo, que é muito pior que eu...
- Minha nossa Senhora... Você é o Zero...
- Pessoas como você me fazem perder a paciência...
Um som de fita adesiva sendo desenrolada é ouvido e o sujeito é amordaçado, segundos depois:
- Achei que fosse ao menos educado... Esse poder paralelo que você financia mata pessoas cruelmente. Com a ajuda do seu dinheiro. Do dinheiro que teu pai te dá, pra tua diversão. Vê a ironia? O dinheiro que ele ganha por fazer comentários jornalísticos contra a violência urbana, financia essa violência...
Um choro abafado começa a ser ouvido:
- Vê a hipocrisia? Sei como se comporta quando está com os seus... Sei que anda pensando em carreira política... Acha mesmo que tem condições de representar o povo? Ou ai usar o nome de tua família pra se auto-promover e depois esquecer das pessoas que te ajudaram...? Enfim, não vou entrar em detalhes...

As luzes repentinamente se acendem e ofuscam o filho de Paul Crates, John. Sua visão, um pouco turva pelas lágrimas e pela luz vão aos poucos se adequando à condição. Olhando em volta ele percebe corpos no chão, corpos de alguns dos traficantes de drogas que eram seus fornecedores, aparentemente mortos, pois sangue também era uma constância. O terror toma conta de seu semblante, quando de trás dele surge um sujeito corpulento, com uma camisa preta, calças jeans, luvas e coturnos. Sua face se esconde numa máscara de tecido, com óculos escuros de mergulho cobrindo seus olhos. A fita adesiva é violentamente retirada de sua boca e este respira ofegante, quase hiper-ventilando:
- Por favor, não me mate...
- Não vou te matar... Você alimenta o poder paralelo e não faz parte direta da situação... É assim que gosta de pensar, não é mesmo? Não... Bem que gostaria... Mas, não hoje. Vou te apresentar uma pessoa. Entre Jeremias...
Nesse momento, entra por uma porta, antes não notada por John, um rapaz negro, vestido como rapper, com o rosto coberto de lágrimas, aparentando ter seus 17 anos de idade:
- John, este é Jeremias... Ele mora na vizinhança onde tu adquire teus produtos. Acho que você é um sujeito bem informado e sabe que uma pequena guerra civil acontece naquelas redondezas, por disputa de pontos e locais de vendas de drogas. Num tiroteio acontecido a algumas semanas, a mãe e último parente vivo de Jeremias foi morta por uma bala perdida, enquanto voltava do trabalho... Jeremias deu sorte, pois as aulas haviam terminado mais cedo naquele dia e ele voltara antes, não junto com sua mãe... Enquanto estudava para o vestibular ouviu o tiroteio, se escondeu e após o fim do conflito saiu para procurar a mãe, encontrando-a, já morta, a uma quadra de casa. Jeremias não tem outros parentes. Seu irmão mais velho morrera meses antes, enquanto trabalhava pras mesmas pessoas que provavelmente mataram sua mãe agora... Pois bem, eu não vou fazer nada contigo. Vou deixar a cargo de um cidadão de bem... Alguém que teu pai grita na TV como “baixa de guerra”...
Zero saca uma arma, uma pistola 380 e entrega a Jeremias:
- Toma... Faça o que quiser...
E se afasta dois passos para trás:
- P-por favor, Jeremias... Olha, eu não tive culpa... Sou um viciado, preciso de tratamento... Na-não me mata, cara... Eu posso te ajudar, te dar dinheiro...
Enxugando as lágrimas, Jeremias diz:
- Cara... Por que tu faz isso? Tu tem dinheiro! Tu tem família, mora num lugar bacana, com gente bacana em volta... Era pra eu estar na tua situação. Nasci fudido, sem pai... A mãe trampava direto pra trazer grana pra casa... O mínimo que eu fiz foi estudar... Por que tu fez isso...?
E apontou a arma pra cabeça de John:
- Não!!!! Cara, por favor... O-olha, eu sou viciado, não faço porque quero...
- E alguém te obriga, filho da puta?!?! HEIN?? Alguém te ameaçou e mandou tu usar drogas?!?!? É por causa de gente como você que o mundo tá uma bosta. É gente como você que arma um monte de guerra e engana um monte de soldado dizendo que é patriótico morrer longe de casa por causa de petróleo... Cara, tu vai morrer!!!
- AAAAAHHHH!!! – choro desesperado – Não faz isso, Jeremias... Tu quer ficar igual a ele??? Matar todo mundo que acha que tá errado...?
- Prefiro gente como ele viva do que você... – e força mais um pouco a arma na têmpora de John.
Segundos depois, um soluçar é iniciado e Jeremias chora novamente... E lentamente abaixa a arma...:
- Eu.... Eu não consigo...
Zero diz:
- Tudo bem, Jeremias. Isso apenas prova que você é uma pessoa de bem. – e pega a arma da mão do rapaz – Bem, John... Viu o que é bondade? Viu o que é consciência? Pensamento humano? Pense bem sobre isso...
E caminha em direção à porta, levando Jeremias consigo. John desesperado, chora baixo, rezando por não ter morrido. Barulho de outras portas, mais distantes, são ouvidas e depois, o som de um carro partindo. John sabe que tem que pensar num jeito de sair dali, mas continua a chorar, pensando no que poderia fazer para não acontecer isso novamente, enquanto a necessidade por outra dose também chegava. Ouviu passos se aproximarem. Zero entra pela porta:
- Refletiu sobre sua vida? Infelizmente, pra você, eu não sou boa pessoa como Jeremias...
- POR FAV...

BLAM...

Noticiário Justiça Popular:
Corpo de John Crates, filho de Paul Crates, famoso jornalista de outra emissora é encontrado morto com um tiro na cabeça em beco no centro baixo da cidade. Ele foi encontrado coberto de cocaína, em meio a uma poça de sangue e um bilhete com um endereço nas docas. Chegando no endereço escrito a polícia encontrou os corpos de 5 traficantes de drogas procurados e que, de acordo com as investigações, participavam da guerra por locais de tráfico no bairro de Mundo Novo. Nossas condolências a Paul Crates e família.

Ps1.: "hiperventilar" é uma coisa que só americano faz... Por que não?
Ps2.: Me desculpem pelo tamanho, mas se eu dividisse, perderia o sentido.

3 comentários:

andy disse...

Fake.

hylenne disse...

bah, foi longo hoje hein! rs

legal... zero de volta! essa ideologia de matar os que matam me lembra o jigsaw...

just for the record, eu adoro os longos... (antes que me xinguem :P)

tio blackstone inspirado, maraviiilha :D

hylenne disse...
Este comentário foi removido pelo autor.