09 agosto, 2007

A História dos Kobolds from Hell - parte 1

Tendo vencido as planícies de Gamrika e chegando ao sopé da montanha Morgul, Simon Van Helmont parara com sua montaria para um descanso. A viagem havia sido longa, as provisões estavam no fim e ele se sentia feliz por estar próximo a Tetris, seu objetivo. Um mago não é feito para este tipo de viagem, mas sua missão era muito importante para pensar nisso. Tetris era uma das grandes cidades existentes e seria simples conseguir um grupo de pessoas honradas e valorosas para cumprir tal objetivo. Sassafrás bebia água de um córrego enquanto seu dono observava a estrada. Poucas caravanas seguiam para aqueles lados, pois, apesar de mais curto, o caminho era perigoso pelo fato de Morgul ser íngreme. Apenas grupos pequenos ou andarilhos solitários se aventuravam por ali. Visto que Sassafrás já saciara sua sede, era hora de continuar.
Após uma hora de cavalgada lenta, Simon avistava as muralhas de Tetris. A fortificação era enorme devido aos constantes ataques Orcs em anos passados. Sentinelas mantinham sempre vigília em guaritas altas e armadas com pequenas balistas. Tendo se aproximado o bastante para chamar a atenção de uma sentinela, Simon desmontou e aguardou o aviso:
- Quem se aproxima?
- Simon Van Helmont, devoto de Palier. Vindo de Elfren, lar élfico ao norte.
A rotina dos sentinelas diziam que todos tinham que se apresentar ao chegar aos portões, enquanto a área ao redor era checada por outros guardas. Após alguns instantes, as maciças portas de madeira e ferro se moviam, permitindo sua passagem. A cidade era fascinante, a mistura de povos e raças era sem igual. Todos viviam relativamente em paz, afinal, como toda cidade grande, existem ricos e pobres, o que ocasiona pontos de revolta em parte da população. Simon já havia estado lá antes, travando comércio com artesãos humanos. Sentia-se cansado e tinha de arrumar um estábulo para Sassafrás. Buscando pela informação, foi levado a um próximo do estádio municipal. O esporte mais praticado da região era o Rúgbi e o dono do estábulo o informou que as finais seriam nesta noite.
Sem ter o que fazer naquela noite, era uma boa opção. Não sabia muito do esporte, mas como este agrada boa parte da população, resolveu assistir o jogo, após se hospedar numa estalagem próxima.
A noite chegou e as pessoas se aglomeravam em frente ao estádio, esperando encontrar um bom lugar. Simon esperou até que a entrada ficasse mais desocupada e adentrou o lugar. Era espantoso como os humanos usavam o cérebro para tal fim – pensou. Milhares de criaturas se amontoavam para assistir a um bando de outras criaturas correr atrás de uma bola. Assim eram os seres humanos, a pureza de coração e o ódio mortal eram suas principais características. Fascinantes e dignos de medo, sua contradição os fazia sobreviver neste mundo cruel. Diferente dos anões, insuportáveis habitantes das cavernas, grandes armeiros, mas odiosas personalidades. Deixando de divagar, Simon sentou-se onde poderia avistar todo o campo e esperou pelo início. Os Kraken Megalonianos tentavam uma vitória sobre a quase imbatível equipe dos Manticores Tetrienses. Rixa antiga que os atuais jogadores mantinham com tanta avidez quanto antes. Duas cidades que disputam tanto econômica quanto politicamente o controle do Estado, sendo que isso se transferia para os jogos de rúgbi.
Os Kraken vinham com um bom time, estável e vencedor. Seus jogadores eram brutamontes com uma média de dois metros de altura e força descomunal. Porém, os Manticores tinham um trunfo, como havia dito o estalajadeiro, um poderoso Ogro, uma criatura forte como um elefante anquiliano e com peso proporcional. Como os tetrienses conseguiram convencer um ogro a participar de tal atividade em grupo, ninguém sabia, pois comumente os ogros viviam em tribos e os que viviam nas cidades eram mercenários e pouco amigáveis.
Neste instante os times invadem o campo, cada qual com seu estandarte. Quando o jogador ogro de Tetris invadiu o gramado, Simon sabia que este seria um dos escolhidos. Realmente era uma criatura enorme, facilmente avistável no jogo. Monstruoso, corpulento e sorrindo? Isso sim era uma novidade. Era um dos mais sorridentes ao entrar em campo e a multidão correspondia a essa simpatia. Aclamado pela torcida, todos gritavam o que deveria ser seu nome: Blackstone.
Após o anúncio das equipes o jogo teve início. A violência imperava e os megalonianos sentiam a diferença do jogador de outra raça. Cinco ou seis jogadores eram necessários para segurar o monstro que nunca desistia. Suas comemorações eram dirigidas sempre ao mesmo jogador, com qual parecia ter certa afinidade. Jogadas ensaiadas, arremessos precisos e recepções perfeitas eram comuns entre os dois. Simon observava com atenção, pois deveria contactá-los logo após o jogo. A torcida berrava quando os Manticores venciam o campo e invadiam, se aproximando cada vez mais do gol adversário.
O fim estava próximo e os tetrienses venciam por 10 pontos de diferença. Os Kraken estavam nervosos e cometiam faltas seqüenciais. Quando, com extrema violência, um megaloniano acerta um chute, não permitido nesse jogo, num manticore, pouco abaixo do peito, na direção do estômago. O público veio abaixo e as vaias começaram. O jogador se contorcia de dor quando, como que em defesa de seu companheiro de equipe, um jogador se lançou sobre o faltoso, derrubando-o e distribuindo socos no seu rosto. Era o início da confusão. Os reservas invadiram o gramado e, para surpresa de Simon, o ogro estava apartando a luta. Enquanto todos tentavam se acertar, Blackstone empurrava companheiros e adversários, tentando separá-los. Quinze minutos e muitas expulsões depois a partida pôde ser reiniciada e correu bem até o final com a vitória de Tetris.
Simon se procurou se informar onde os atletas comemoravam a vitória e tomou a direção de tal lugar a fim de aguardá-los. Os jogadores eram carregados e ovacionados pelo povo sendo impossível falar com eles nesse momento.
O mago procurou uma mesa desocupada e saboreava um vinho da cidade quando a equipe chegou, próximo do anoitecer. Enquanto entravam eram brindados pelos clientes e litros de cerveja foram oferecidos. Começaram a se fartar das iguarias, contando os feitos e brindando a cada 15 minutos. Após um certo tempo e com a estalagem mais vazia um fato inesperado aconteceu, componentes do time megaloniano, revoltados com a derrota, invadiram o lugar e iniciaram uma discussão com o pequeno grupo de tetrienses que ainda se encontrava ali. A discussão tomou uma proporção tamanha que um caneco de cerveja foi arremessado acertando um sujeito corpulento, mal encarado e com longos cabelos negros que estava quieto e isolado num canto da taverna. Encharcado de bebida e com um filete de sangue escorrendo pela testa ele levantou-se e, sem dizer uma palavra, segurou a cabeça de seu algoz, um megaloniano, e violentamente, afundou seu crânio no balcão. Os ânimos que não estavam bons, pioraram, iniciando uma briga sem precedentes. Cadeiras voavam, pessoas eram jogadas pelo balcão, enquanto de relance Simon notou que os outros jogadores megalonianos entravam pela porta. Sem titubear, concentrou-se por uns segundos e uma barreira de chamas se ergueu em frente ao portal evitando a entrada de mais inimigos. Sacando de seu bastão, concentrou-se novamente e no outro segundo este se encantava, ficando mais eficaz num combate direto. Entrou na luta, usando de suas técnicas de combate milenares. Blackstone e seu amigo derrubavam oponentes com poderosos e eficazes golpes e o monstro de cabelos compridos parecia se deliciar com a batalha, a cada inimigo derrubado um urro de felicidade era pronunciado, nem o ferimento em sua cabeça o fazia parar. Tetrienses e megalonianos caíam enquanto os quatro se mantinham de pé. Minutos depois a milícia invadia o bar encontrando apenas os quatro e o taverneiro ainda conscientes:
- Blackstone! Butcher! O que aconteceu aqui??? – perguntou o guarda.
- Estávamos apenas bebendo e estes imbecis krakens procuraram briga. – respondeu Reggie Butcher.
- E quem são estes dois?
- Eu me chamo Simon Van Helmont, de Elfren e permiti-me a defesa própria, sendo que seria massacrado se tal não fosse feito.
- Eu sou Baltek... Tava bebendo e esses idiotas quebraram um copo na minha cabeça!
- Ele diz a verdade, guarda. – disse Yirn – Só se defendeu...
- Muito bem, vou levar esses megalonianos arruaceiros presos e providenciarei para que os outros sejam levados para a missão de cura.
Com tais palavras, vários guardas entraram e levaram os prisioneiros sob custódia, enquanto o estalajadeiro oferecia mais bebidas aos “sobreviventes”.
- Vamos beber até o dia raiar! – comemorou Reggie.
- Posso tomar a palavra com os senhores? Tenho uma proposta que, devido a sua importância para o futuro do mundo, interessará bastante.
- Ele disse que quer tomar a palavra, Reggie? Mas aqui só tem cerveja e vinho.
- Calaboca, Yirn... Não preste muita atenção nessas coisas, ele não é muito inteligente. Diga-me, o que pode nos interessar tanto?
Enquanto isso, Blackstone aproximou-se do homem de cabelos negros, tentando iniciar uma conversa:
- Oi, queria te agradecer por nos ajudar.
- O que você quer?
- Tô tentado ser gentil...
- E quem te pediu isso?
- Tudo bem amigo... Você é grande como eu e acho que...
- É, eu sou um ogro também, mas não quero jogar rúgbi.
- Eu sabia. EI REGGIE, ele também é ogro.
- Legal, Yirn, vê se vocês se entendem! – respondeu Reggie.
- O que cê faz?
- Amigo, não conseguiu entender que não quero conversa?!
Com tal demonstração de inimizade, Blackstone recuou enquanto Simon se aproximou dos três:
- Vejo que tens um ferimento que continua a sangrar...
- Não tem problema, amanhã tá bom.
- Posso resolver agora, sou estudioso das artes místicas e tais conhecimentos me ensinaram a curar com certa destreza.
- Hmmm... Não gosto de feitiçarias... Nem de feiticeiros...
- Caro companheiro de peleja, não sou nenhum feiticeiro. Sou um mago, discípulo de Ingram e devoto de Palier, protetor das florestas e todo o ecossistema lá presente. Acha mesmo que vou te fazer mal?
Yirn, coçando a cabeça:
- Não entendi nada, só o final...
- Não é pra entender mesmo, Yirn... Se o “senhor sensível” não deseja se juntar na nossa empreitada em busca de riquezas e poder, que fique aqui nesse bar, bebendo até a morte.
- Olhe como fala, homenzinho!!!
- Calma, cavalheiros. Isso pode ser resolvido de uma maneira melhor. Tu te mostraste um valoroso guerreiro. Não gostaria de se juntar a nossa busca?
Bebendo o último gole da cerveja que ainda estava em sua caneca, Baltek pergunta:
- E o que eu ganho com isso?
- Além de salvar o mundo, serás recompensado após a missão.
- Tá... Estou sem emprego mesmo... Agora, desafasta com essa feitiçaria... Tem uma missão de cura na cidade, é lá que vão consertar esse ferimento. Telak não gosta de feitiço.
- E quem seria esse Senhor Telak?
- Telak é deus da guerra, senhor de Prumor, pra onde vão todos os guerreiros que morrem em batalha.
- Ei, ei! Será que podemos procurar o curandeiro logo, o braço do sujeito ainda está pingando sangue...
E assim teve início uma grande amizade.

Obs.: essa história se passa antes da história "A Busca"... Acontece que achei isso no meu micro e resolvi continuar. Qualquer dúvida me liga...

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala Bonitão!
Bom conto apesar da licença poética pra Baltek...
Em setembro tô aí pra beber e tocar uns Motorhead
abraço
André