13 março, 2008

Reator do Proletariado - Gênese

Imagine um motor à explosão. Daqueles que se usam nos carros. Poucos sabem como funcionam, sendo que não é algo muito complexo. É chamado erroneamente de “à explosão”, pois todos acham que o movimento se dá pelas explosões internas, quando na verdade, acontecem por aumento e diminuição de pressão, sendo seu nome real motor de combustão interna, mas como o termo “explosão” agrada mais aos olhos, fiquemos com ele. Internamente, para que hajam as explosões, necessita-se de combustível e oxigênio. É de conhecimento geral que quando a energia gerada pela reação química da explosão é convertida em energia mecânica, que faz o veículo se movimentar, uma parte dela se converte em calor, ou energia térmica, aumentando a temperatura do artefato em questão podendo causar dano permanente. Para que isso não aconteça, vários artifícios refrigeradores podem ser usados, no caso dos veículos automotores: água e radiador. Calor sempre foi o grande vilão, tanto em máquinas a vapor quanto em eletrônica. Tudo necessita de refrigeração permanente e eficiente. Numa usina nuclear não haveria porque ser diferente.

Com energia nuclear a reação é menos macroscópica. Alguns isótopos de certos elementos apresentam a capacidade de, através de reações nucleares, emitirem energia durante o processo. É o caso do urânio, elemento mais usado nas usinas nucleares. Essa energia, devidamente trabalhada, é convertida em eletricidade. Refrigeração constante e controle permanente são essenciais para o bom funcionamento de uma usina. Dois erros...

Refrigerar algo que já está em colapso é redundante e perigoso, como tentar apagar um vulcão com milhões de litros de água. Mikhail era esforçado, mas seu conhecimento se limitava aos manuais. A alavanca que dispersava o aparato refrigerante no reator parecia a única chance de salvação. As paredes de concreto e aço da instalação pareciam tremer, não se sabe se pela pretensa explosão ou pelo pavor que tomava conta do operário. Aquele momento se tornou infinito.

Ser reconhecido como herói na União Soviética, ser condecorado pelo premier Gorbachev, voltar a Moscou, ser promovido a algum cargo no Kremlim, poder dar boa vida novamente a sua mãe... Esses pensamentos permeavam sua mente, fazendo seu coração se acelerar como nunca antes. Chernobyl era importante para o povo ucraniano e para toda a união e perdê-la seria o fim de uma era de desenvolvimento. Seu treinamento não simulou superaquecimento e não era sua responsabilidade, porem, ele era o único.

Tanto movimento cerebral em 2,54 segundos.

O topo superior do invólucro do reator literalmente alçou vôo, caindo a alguns quilômetros de distância. O governo soviético camuflou grande parte das informações pertinentes ao acidente, deixando milhares de pessoas a mercê da radioatividade, reescrevendo suas histórias de vida. Com Mikhail não seria diferente.

2 comentários:

Anônimo disse...

me inspirou a pesquisar sobre a história. nunca vi maiores detalhes sobre isso...

pretende continuar contos nessa linha? esse aí ficou muito bem escrito :)

Yirn disse...

Valeu... a história continua