A embriaguez escorreu pela pele amassada. O raciocínio tentou inútil ignorar o pedido de urgência. O corpo era a própria imagem da fragilidade.
Pedi para deixar a encomenda em cima da poeira do capacho. O sevidor, leal a sua função, exigiu que eu assinasse a papelada.
Em segundos, abri a porta, percebi que ainda existia um mundo lá fora, e voltei ao regime solitário - uma combinação tediosa de álcool, comida congelada e TV por assinatura.
Nem me despedi do rapaz. Olhos embaçados tentavam focalizar o pacote. Não era tão pesado. A consciência, essa sim, pressionava oito toneladas e meia sobre as costas.
A navalha abriu uma caixa de Pandora.
Impossível! Fiz de tudo para eliminar quaisquer vestígios! Como pude falhar?
O pânico se acentuou com um toque de telefone celular, algo que eu não tinha. Mesmo envolvido em plástico-bolha, ainda assim escapava um barulho irritante.
- Você acabou com a minha vida! Agora, é a minha vez de acabar com a tua!
Aquela voz foi o pior café-da-manhã que já experimentei. Não conseguia sequer respirar.
- Se eu fosse você, sumia de novo! Se for capaz...
Sempre havia me portado como homem correto. Até o instante que cometi um erro, considerado imperdoável por aqueles que eu me joguei contra o fogo para protegê-los.
Agora, minha vida vai se transformar em um inferno novamente.
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