As últimas horas tinham sido muito estranhas para Marcos... Descobriu ser um desmorto, matou alguns caras, encontrou um sujeito mais encrencado que ele nos assuntos sobrenaturais e agora bebiam cerveja juntos num pub... Nesse momento ele pensou no que de pior poderia acontecer e que beber aqueles tragos seria a melhor coisa a fazer.
Daniel, o “invocador infernal” parecia bem calmo, para um indivíduo que acabara de matar um pretenso servo de Deus. Enquanto bebiam, falavam sobre trivialidades, gostos em comum, rock´n roll, mulheres e afins. Depois de alguns tragos, Marcos resolveu retomar o assunto:
- Fala pra mim, cara... O que aconteceu dentro daquele bar? Tu, meio que, tem amigos no inferno?
- Eu não falo muito sobre isso, mas acho que as coisas estão começando a se encaixar... Tu falou em amigos no inferno, né? Bem, não tenho amigos, eu meio que os controlo... Eles fazem o que eu quero. Não sei muito bem como funciona, mas é bem eficiente... Descobri a algum tempo que sou filho de um demônio. Mas não um demônio qualquer e sim um dos que mandam no inferno... Eu to sendo bem simplista...
- Puta que o pariu... Cara, como tu vive com essa merda toda?
Parecia que falavam de frivolidades, como quem fala de um churrasco no último fim de semana.
- No início foi muito difícil... Tentei me matar algumas vezes, mas tu sabe... Suicídio, inferno, então... Nunca deu certo. Me adeqüei à situação... – e mais uma golada.
- E... Tipo... Pra que que tu tá na Terra? Pra ser tipo um anticristo ou coisa assim?
- Eu pesquisei algumas coisas... Sobre os planos de meu pai... Há muito mais sobre o inferno escrito por aí do que nós sabemos. É muita coisa pra falar agora, mas tu tem que saber que não são céu e inferno... Estão mais para dimensões paralelas... Nós estamos no meio da bagaça e os caras acham que conquistando aqui a vida deles vai ficar mais fácil.
- Então Deus... – Marcos é interrompido por Daniel.
- Esse Deus que todos chamam... Eu não o conheço. Na verdade conheço poucas pessoas dessas dimensões. Conheço pouco até mesmo do inferno. Mas sei que quando chegarem aqui não vai ser muito bom. E tenho pouco tempo para fazer algo...
- Algo como assim?
A cerveja já fazia efeito. James era um cara bem atencioso com Daniel e quando uma acabava, outra era reposta. A conversa surreal se desenrolava cada vez mais natural e Marcos se agradara muito da cerveja irlandesa. Daniel continuava com seus conhaques de acompanhamento e após outra golada:
- Já ouviu falar que 33 é um número não preterido pelas religiões...
- Sei que Jesus morreu com essa idade...
- Pois é, ficou meio cabalístico aqui... Mas pro pessoal de lá é muito importante. Por isso Jesus morreu nessa idade. Ele não poderia ficar aqui mais tempo.
- Mas... Ele veio mesmo para nos salvar?
- Cara, não sei... Acho que ele também não sabia... Só sei, pelo que li, que ele também ficou muito decepcionado com a situação...
- Bicho, que coisa maluca... E eu que só devia ter morrido...
- Hahahahaha, bem vindo ao meu mundo, cara pálida!
E mais um brinde foi feito...
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