Saíram do bar, dobrando a esquina antes das sirenes ficarem altas o suficiente. O que era esquisito se tornou terrivelmente estranho e bizarro. Antes era só teu estado “post-mortem”, agora um recém conhecido sujeito que conseguia abrir portais para o inferno se tornara teu colega de noite. Enquanto caminhavam, Marcos tentava engolir todos aqueles acontecimentos e o sujeito acendia um cigarro:
- Ei, zumbi... – primeira baforada – Afinal, o que aconteceu contigo?
O tom da conversa era o mais normal do mundo:
- Cara, peraí... Tu acaba de matar um cara...
- Seguinte, se a tua idéia é me criticar sem me conhecer, então te manda. Meu saco já ta cheio demais...
- Tá... Eu não quis ser escroto. Foi mal. É que muita coisa ta acontecendo ao mesmo tempo...
- É, isso tu já me disse. Eu sei como é. Tu pôde ver que coisas estranhas também acontecem comigo. E até eu me acostumar, passei por poucas e boas.
- Bicho, eu simplesmente acordei e cavei minha saída da sepultura. Fui a um bar, tomei uns tragos, encontrei com o cara que me matou e acabei com ele e teus amigos. Tava fugindo até entrar naquele bar e te encontrar. Esse é o resumo do que aconteceu comigo.
- Hmmm... Bem, vamos entrar nesse bar. – apontou pra um pub, geralmente freqüentado por playboys da cidade. – E, aliás, meu nome é Daniel, prazer Marcos.
- Prazer, Marcos... Mas esse bar é meio ruim, tipo... Peraê, como tu sabe meu nome???
- Te explico depois, vamos aqui mesmo que é escuro e ninguém vai incomodar a gente.
Entraram no bar. Ninguém os abordou, Daniel parecia conhecer algumas pessoas e sentaram-se à mesa mais obscura do recinto. A decoração lembrava um pub irlandês daqueles de filmes e Marcos constatou estar errado sobre seus freqüentadores. As pessoas ali pareciam ingleses e adjacentes, em várias mesas as pessoas falavam apenas inglês, ou algum dialeto bem próximo. Aparentemente, os playboys ficavam do lado de fora, fingindo beber as cervejas irlandesas. Um sujeito alto, corpulento e com duas grandes costeletas ruivas veio atendê-los:
- Olá, Daniel, caro amigo. Tudo bem? O que vai ser hoje? – falou o homem, com um forte sotaque:
- Oi, James... Tudo indo, duas Guinness pra nós, e um conhaque daqueles pra mim.
O garçom cumprimentou Marcos com um aceno de cabeça e foi buscar o pedido:
- Adoro esse bar, mas como tu pôde perceber, um bocado de merda acontece comigo, então o evito. James é um bom amigo. Eu o ajudei, ele me ajudou, estamos quites e criamos um vínculo...
O pedido chegou, James os serviu e se retirou apenas com um polegar levantado:
- Não sei se é da minha conta, mas o que foi aquilo no bar? – perguntou Marcos enquanto, levava teu copo à boca. No meio do caminho, Daniel o interrompeu:
- Sem brindar? Por favor... – levantou teu copo, Marcos fez o mesmo e Daniel falou com um pequeno sorriso no canto da boca:
- Morre seco...
- Que porra é essa?
- Nada, só um brinde que faço com meus amigos...
Assim se iniciou o bate papo de dois dos seres humanos mais sobrenaturais da face da Terra...
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